Os flippers arrancam dinheiro do mercado financeiro de uma forma muito rápida e lucrativa
Se você tem menos de 40 anos não deve se lembrar do Flipper. Flipper era um golfinho que era o protagonista de uma série homônima da década de 1960. Teve 88 episódios de 25 minutos cada e originou-se no sucesso de um longa-metragem de 1963. O golfinho ajudava um oficial da guarda-costeira dos EUA a cuidar de uma reserva marinha na Flórida. Durante muito tempo, o termo “flipper” virou sinônimo de golfinho.
E o que os golfinhos fazem quando estão nadando, eles dão saltos: eles entram na água e, de repente voam para fora dela em grande velocidade.
Esse movimento característico desses mamíferos aquáticos, é muito semelhante ao dos flippers dos mercados.
Na verdade, essa é uma interpretação meio poética do termo. Na verdade, ele vem do verbo “to flip”, do inglês, que significa virar algo subitamente.
Os flippers são participantes da bolsa que ficam de olho nas Ofertas Públicas de Ações ou Ofertas Iniciais (em inglês, IPOs – Initial Public Offering).
Uma IPO significa que uma empresa de capital “fechado” passará a ser uma empresa de capital aberto, tendo suas ações negociadas na bolsa a partir daí. De início, as ações estão de posse da empresa e, a partir da IPO, investidores de todos os portes comprarão essas ações passando a ser “donos”, sócios, investidores, acionistas da empresa.
O objetivo da Oferta Pública, geralmente, tem por objetivo captar recursos financeiros para financiar novos investimentos da companhia. A companhia busca uma instituição financeira para prestar o serviço de emissão de ações, conhecido como Lançamento de Ofertas Primárias.
Porém, durante a IPO alguns participantes não estão interessados em permanecer com as ações, como sócios. Eles querem vendê-las ainda no mesmo dia ou poucos dias depois ou ainda poucas horas depois de iniciadas as negociações, lucrando da forma mais rápida possível.
Como os golfinhos, como os flippers, eles mergulham e, segundos depois, saltam para fora da água.
Depois da Publicação de Aviso ao Mercado e do Procedimento de Bookbuilding (construção do livro de ofertas), vem o Período de Reservas: os interessados têm um prazo, geralmente de uma semana, para comprar os papéis, colocar o dinheiro na mesa.
Tão logo sabem da abertura da reserva de ações de uma IPO de determinada companhia, esses participantes fazem a sua própria reserva, uma grande quantidade de ações.
Uma vez fixado o preço por ação, o Bookbuilding é encerrado. Depois vem o prazo para Exercício da Opção de Lote Suplementar. Nesse momento, a empresa pode definir ofertar mais ações que o previsto inicialmente.
Então, vem o dia da IPO propriamente dita: as negociações na bolsa começam. E é aí que os “flippers” começam a vender as ações que compraram. Finalmente, temos a Liquidação Financeira da operação. A essa altura, os flippers já estão com o seu lucro no bolso, quer dizer, se a operação foi bem-sucedida: eles esperam que sim, uma vez que, se uma empresa está abrindo capital, é esperado que nas primeiras horas de negociação de sua história, haja uma grande demanda por esses papéis fazendo com que o preço suba nestes momentos iniciais, horas ou mesmo minutos. Nem sempre, isso acontece de fato… então esse tipo de operação, além de envolver um montante considerável de dinheiro, é considerada arriscada.
Os flippers costumam avaliar: volume da oferta (quanto maior melhor), o setor da empresa, a saúde da empresa que está abrindo capital, o tempo de liquidação financeira (quanto maior o tempo, melhor, caso o flipper tenha que cobrir algum prejuízo).
Os flippers não são muito bem vistos pelo mercado e considera-se que atrapalham os lançamentos de ações. Os Estados Unidos têm legislações para impedir esse tipo de comportamento. Algumas empresas, no Brasil, estão adotando o lock-up: ao fazer a reserva das ações, o investidor deve se comprometer a ficar com elas por pelo menos 45 dias. A medida é controversa, pois limita a liquides natural do mercado de ações, embora evite a atuação dos flippers. O lockup não é obrigatório, mas os investidores que o aceitam têm prioridade na reserva de papéis. Ou seja: o flipper pode até reservar ações, mas se a demanda for grande (o que acarretaria a alta dos papéis), ele pode ficar sem a oportunidade. E justamente num papel de alta demanda, que implicaria a escassez e a alta do ativo.