Nos últimos anos, os investidores iniciantes ficaram animados com os recordes da bolsa brasileira.
Primeiro, em 2018, durante o governo Temer, quando a faixa dos 70 mil pontos foi ultrapassada, topo histórico da então BM&FBovespa, pouco antes da crise de 2008.
Depois, em 2019, a barreira “mágica” dos 100 mil pontos do Ibovespa foi rompida com as promessas de um governo economicamente mais liberal e de reformas que fariam a diferença (previdenciária, administrativa, política e outras).
Todo esse otimismo atraiu milhões de investidores iniciantes para a bolsa de valores. Isso e os juros baixos (Selic) que tornaram a renda fixa menos e menos atrativa.
O número de pessoas físicas na bolsa de valores dobrou de 2018 para 2019. E dobrou de novo de 2019 para 2020. Nunca antes na história desse país houve tamanho interesse em renda variável. Mesmo em um período em que a bolsa passou por uma visível crise (causada pela pandemia). Veja:
- 2017: 619 mil pessoas físicas na bolsa
- 2018: 813 mil pessoas físicas na bolsa
- 2019: 1,7 milhão de pessoas físicas na bolsa
- 2020: 3,2 milhão de pessoas físicas na bolsa
Sim, muita gente entrou na bolsa. Claro que por trás disso também há coisas positivas, como uma maior educação financeira da população, não apenas euforia por recordes e desilusão com a renda fixa.
Porém, não podemos perder de vista o efeito que a recuperação rápida da crise da pandemia trouxe.
O Ibovespa acima de 100 mil pontos chama a atenção. Mas será que esses 100 mil pontos são realmente os 100 mil pontos de antigamente?
Para termos ideia em que pé estamos com essa pontuação precisamos dar uma olhada em como os “gringos” olham para nossa bolsa.
E uma das melhores formas é fazer isso olhando para a nossa bolsa em dólar ou para o fundo de índice que representa nossa bolsa nos Estados Unidos.
A bolsa brasileira em dólares
A primeira coisa que você precisa saber para começar a entender isso é o que significam os pontos do Índice Bovespa (Ibovespa).
Não vou detalhar muito. Temos artigos sobre isso por aqui. Mas basicamente, o Ibovespa representa o valor de uma carteira teórica de ações (as que juntas representam 80% dos negócios).
Essas ações – umas 60 e o número e o peso delas na carteira variam de quatro em quatro meses – oscilam diariamente e, juntas, dão um valor em pontos.
Mas dá para entender que, de forma simplista, que, se eu comprasse as ações no mesmo peso que é formado o Ibovespa, eu teria esse valor em reais. Então, didaticamente, dá para entender que cada ponto é R$ 1.
E quanto valem esses pontos em dólares. Sim… porque se a bolsa é avaliada em reais (pontos derivados do real), dá para fazer o “câmbio” desses pontos em dólares. Afinal, o dólar também variou em relação ao real ao longo do tempo, às vezes positivamente, às vezes negativamente.
A bolsa de valores em dólar
Se você procurar “Ibovespa em dólares” no Google, encontrará facilmente os gráficos do Ibovespa convertido para a moeda. Outra forma de encontrar é digitando as letras: BVSPUSD.
Se olharmos desde a década de 60, veremos que, mesmo com os pontos dolarizados, estamos em uma tendência de alta. Isso é bastante tempo, no entanto.
Mas, se olharmos para o panorama dos últimos anos, veremos que ainda estamos longe de voltar para o auge de 2008, marcado pela descoberta do pré-sal pela Petrobras.
Vamos ver os valores dos pontos dolarizados ao longo dos anos:
- 2008/maio: 44.590 pontos. Na época, ultrapassamos a faixa dos 70 mil pontos do Ibovespa em reais
- 2008/novembro: 15.808 pontos. Foi a crise de 2008, causada pelo mercado imobiliário americano. Em reais, o Ibovespa saiu de seus 70 e poucos mil pontos para 35 mil pontos.
- 2016/janeiro: 10.053 pontos. Enquanto em reais estávamos melhores que os pontos de novembro de 2008, em dólares foi o ponto mais baixo de nossa história recente da bolsa, valendo cerca de 30% menos que no auge daquela crise. Foi uma queda lenta, mas contundente.
- 2018/janeiro: 26.317 pontos. Com o governo Temer, o Ibovespa ultrapassou o topo histórico dos 70 mil e poucos pontos. No entanto, em dólares, ainda estávamos pouco além da metade do auge que foi atingido durante o governo Lula. Durante o governo Temer ainda tivemos incidentes, como a greve dos caminhoneiros e o Joesley Day, que fez a bolsa cair, em dólares, para 18.768 pontos.
- 2019/dezembro: 28.818 pontos. Por aqui, os 120 mil pontos da bolsa de valores traziam mais e mais investidores empolgados com a possibilidade da renda variável. No entanto, os pontos dolarizados contavam outra história. E, não bastasse isso veio a pandemia, que fez as bolsas mundiais despencarem.
- 2020/março: 14.075 pontos. Resultado da pandemia. Nem tão baixo quanto em 2016, momento mais baixo, em dólares, da história recente de nossa bolsa. Mas também abaixo da crise de 2008.
- 2020/dezembro: 22.928 pontos. Note que, o Ibovespa não-dolarizado, se recuperou plenamente da queda da crise. Porém, em dólares, naquele momento, estávamos a 6 mil pontos do auge antes dela, atingido em dezembro de 2019.
Portanto, olhando para o gráfico do Ibovespa em dólares, podemos dizer que ainda falta muito para nosso índice se recuperar plenamente de todos os acontecimentos políticos e econômicos de todos os anos que se passaram.
Pode ser uma oportunidade para entrarmos em boas ações pensando no longuíssimo prazo talvez, mas não podemos dizer isso só olhando para as cotações.
Porém, para nossos estudos no Raio X Preditivo, olhar as variações de preço não é suficiente. Para onde devo olhar se quiser olhar a cotação de nosso índice incluindo o volume de negócios, informação principal para nossa metodologia.
Como olhar o volume de negócios no Índice Bovespa Dolarizado?
Para ter o dado de volume de ativos negociados no Índice Bovespa (Ibovespa) dolarizado, você deve procurar o EWZ (ETF iShares MSCI Brazil). É um fundo de índice que replica o Ibovespa e é negociado em dólares na Bolsa de Nova York, lançado no ano 2000 e que é distribuído pela Black Rock Investments.
Fundos de índice não são exatamente fundos de investimento, em que compramos cotas. Apesar de serem compostos por um mix de ações, eles podem ser, na prática, negociados como se fossem ações nas bolsas de valores em que estão presentes, como liquidez e formas de negociação muito similar. Podemos fazer trades ou investimentos com eles.
No caso, o EWZ não acompanha exatamente a composição do Ibovespa, mas o MSCI Brazil 25/50. Na prática, há pouca diferença entre os dois índices. Se compararmos os números e as datas que listei acima, veremos que eles meio que se equivalem em dólares.
A vantagem é que com o EWZ podemos acompanhar o volume de negócios em qualquer periodicidade, seja nos minutos, nas horas, nos dias, nas semanas ou mesmo nos meses. Por exemplo, veremos que houve um grande volume em março de 2020, indicando uma possível absorção do pânico pelos big players durante o início da pandemia. De fato, o volume se manteve estável até o momento, quando o índice, mesmo se recuperando em reais, ainda está meio que andando de lado em dólares. De fato, houve um aumento no volume quando a cotação do EWZ ultrapassou o range entre US$ 26 e US$ 33 e veio testar essa faixa novamente indicando uma possível absorção em forma de acumulação pelos big players.
Com o volume, portanto, podemos ter uma leitura mais completa do índice Bovespa em dólares.