Os bastardos inglórios de Richard Dennis
Tem diversos filmes com essa temática. A história de Richard Dennis e sua trupe de traders que saíram do ponto zero e passaram para a elite dos investimentos parece ter saído de um deles.
Tudo começa com uma aposta.
Richard Dennis, que, na década de 80, já era um investidor relativamente invejável, apostou com seu colega William Eckhardt que, para ser trader, não é preciso nenhum talento ou dom especial dado pelos deuses do mercado. Basta aprender.
Dennis dizia que sim. O outro dizia que não. Eckhardt achava que só aqueles abençoados pelas capacidades mágicas do economia seriam capazes de obter lucros na bolsa de valores.
Fizeram a aposta e definiram as regras. Escolheriam diversas pessoas de perfis variados e as ensinariam a fazer trades nas bolsas de valores. Se tivessem sucesso, Dennis estaria certo.
O processo de seleção foi bastante interessante. Os candidatos tinham que responder uma série de perguntas aparentemente estapafúrdias. Aparentemente. Na verdade, elas tinham a finalidade de determinar como os participantes do experimente lidavam com o risco.
Perguntaram qual foi a coisa mais arriscada que cada um fez; se, tendo US$ 100 mil, dava para arriscar US$ 25 mil em cada trade; se vale a pena seguir palpites para investir e até mesmo o nome do livro e do filme preferido e por que o candidato gostava dessas obras.
No fim, ficaram com participantes bastante disparatados. Um deles, inclusive, era ex-ator, ex-traficante e ex-presidiário. E corretor de commodities.
Mas também tinha gente como um porteiro, um jogador de RPG, um ex-piloto da força aérea. E um jogador de cartas.
O que eles tinham em comum? Não sabiam nada de bolsa de valores.
Eles pareciam os 12 Condenados: um grupo desqualificado designado para uma tarefa que deveria ser de um grupo de elite. Se você ainda não viu esse filme, deveria ver, para ter uma ideia do que era o grupo de Dennis.
O treinamento
Embora não concordassem em suas opiniões, ambos, Dennis e Eckhardt, deram o treinamento para o grupo selecionado. O grupo foi chamado de Turtles Traders. Parece que Richard Dennis certa vez viu uma criação de tartarugas em Singapura e, por algum motivou, notou similaridades naquela situação.
Os Turtle Traders foram ensinados então a seguir tendências, no momento em que congestões eram rompidas. Sabe aquelas faixas entre um suporte e uma resistência importantes? Os Turtles simplesmente ficavam fazendo isso. Esperando o rompimento desses retângulos.
O regime era espartano: eles só usavam uma mesa, um telefone, papel e caneta para anotar suas operações.
Como estavam aprendendo, caso tivessem prejuízo não precisavam pagar por eles. E, olha que interessante, tinham direito a parte dos lucros. Além disso, o dinheiro que operavam não era deles. Isso dá uma certa tranquilidade, sem dúvida.
O primeiro ano de operação dos Turtle Traders foi em 1984. Todos os participantes seguiram as técnicas ensinadas pelos dois trader com opiniões diferentes. Mesmo assim, as operações não iam para frente. Os stop loss eram constantemente acionados. No entanto, a técnica estava correta: as operações que davam certo davam excelentes lucros, o que compensava as que davam errado, mesmo elas sendo numerosas. Já em 1985, alguns dos participantes acumulavam lucros de 300%.
O experimento durou até 1988. No fim das contas, Dennis mostrou que estava certo. Aprendendo uma boa técnica, seguindo as regras, fazendo gerenciamento de risco, não tem como dar errado. No ano final dos Turtle Traders, o próprio Dennis perdeu metade de um fundo que administrava em uma operação mal sucedida, sofrendo ele mesmo prejuízos em seu patrimônio.
Nos anos seguintes, Richard Dennis teve ainda outros tropeços e decidiu pendurar as chuteiras para conservar a fortuna que ainda tinha. Isso não intimidou diversos dos participantes do experimento, que continuaram no mercado mobiliário com relativo sucesso.
Toda essa história interessante está no livro The Complete Turtle Trade. Sem dúvida, vale a pena conhecer essa narrativa para saber que qualquer um, sob boa orientação, pode fazer bons negócios na bolsa de valores.