O número de pessoas físicas que especulam na bolsa de valores brasileira teve um boom
Até meados dos anos 2000 era pensamento corrente que bolsa de valores era coisa para pessoas ricas e que usavam cartola.
De fato, as corretoras de valores eram entidades meio fantasmagóricas, do imaginário das pessoas que assistiam as cenas da gritaria no pit da então Bovespa. Muitas corretoras só tinham representações em São Paulo e algumas começavam a se expandir para outras capitais, nessa época, com filiais.
As taxas e os volumes mínimos permitidos para negociação de ações tornava impossível ou no mínimo inviável para pessoas comuns comprarem ações e outros ativos negociados no mercado. Mesmo fundos de ações tinham cotas mínimas de participação na casa das dezenas de milhares de reais.
As pessoas físicas comuns ficavam relegadas à poupança quando se tratava de “investimento”. Se você aplicava em CDB (também renda fixa) já podia se considerar o diferentão do seu grupo de amigos quando se tratava de investir.
Mas, aos poucos isso foi mudando. As corretoras e a própria bolsa começaram a visar esse público e, de lá para cá, o número de pessoas físicas cresceu vertiginosamente. Com o surgimento de sites cada vez mais acessíveis, home brokers que permitiam a operação de ações a partir de casa, sem precisar ligar para a corretora e, finalmente, nos últimos anos, com o surgimento de aplicativos simples, ficou não só fácil de abrir contas em corretoras como também de fazer negócios por conta própria, de casa, de um computador ou a partir de um celular.
A B3 mantém um documento em Excel, disponível para qualquer um que queira consultar, com o número de pessoas físicas que estão na bolsa e, nele vemos que, de 2002 para cá o crescimento foi exponencial.
- até o momento, o crescimento mais surpreendente é o de 2017 para cá:
Ano | Homens | Mulheres | Total de pessoas físicas | ||
Qtd | % | Qtd | % | Qtd | |
2002 | 70,219 | 82.37% | 15,030 | 17.63% | 85,249 |
2003 | 69,753 | 81.60% | 15,725 | 18.40% | 85,478 |
2004 | 94,434 | 80.77% | 22,480 | 19.23% | 116,914 |
2005 | 122,220 | 78.76% | 32,963 | 21.24% | 155,183 |
2006 | 171,717 | 78.18% | 47,917 | 21.82% | 219,634 |
2007 | 344,171 | 75.38% | 112,386 | 24.62% | 456,557 |
2008 | 411,098 | 76.63% | 125,385 | 23.37% | 536,483 |
2009 | 416,302 | 75.37% | 136,062 | 24.63% | 552,364 |
2010 | 459,644 | 75.24% | 151,271 | 24.76% | 610,915 |
2011 | 437,287 | 74.98% | 145,915 | 25.02% | 583,202 |
2012 | 438,601 | 74.70% | 148,564 | 25.30% | 587,165 |
2013 | 440,727 | 74.79% | 148,549 | 25.21% | 589,276 |
2014 | 426,322 | 75.57% | 137,794 | 24.43% | 564,116 |
2015 | 424,682 | 76.23% | 132,427 | 23.77% | 557,109 |
2016 | 433,759 | 76.90% | 130,265 | 23.10% | 564,024 |
2017 | 477,887 | 77.13% | 141,738 | 22.87% | 619,625 |
2018 | 633,899 | 77.94% | 179,392 | 22.06% | 813,291 |
2019 | 1,292,536 | 76.89% | 388,497 | 23.11% | 1,681,033 |
2020 | 2,348,612 | 74.01% | 824,799 | 25.99% | 3,173,411 |
Algumas observações interessantes sobre esse crescimento:
- Proporcionalmente, o maior crescimento é o de mulheres. Em 2002, apenas um em cada investidor pessoa física era do sexo feminino. Hoje as mulheres são mais de um quarto
- De 2006 para 2007, o número de pessoas na bolsa quase que dobrou. O que aconteceu nesse período? Recordes da bolsa, meados da descoberta do pré-sal, com valorização extrema da Petrobras, euforia generalizada. O que aconteceu depois em 2008? Crise do subprime fazendo todas as bolsas perderem metade ou mais de seu valor. Pânico.
- De 2018 para 2019, o número de pessoas físicas na bolsa dobrou novamente, saindo 813 mil para 1,68 milhões. O que tínhamos? Euforia generalizada, governo com promessas liberais, reformas, recordes da bolsa. O que aconteceu depois, em 2020? Pandemia, queda vertiginosa das bolsas, pânico.
- De 2011 até 2017, o número de pessoas físicas permaneceu estacionário. O que aconteceu nesse período? Bolsa em queda até 2016. Ninguém que não entendia o mínimo de bolsa queria entrar. Mas pode crer que quem entrou nesse período se deu bem se teve a paciência para manter suas posições fazendo aquisições com constância.
- Mesmo com a crise da pandemia no mundo, em 2020, o número de pessoas na bolsa novamente dobrou, praticamente passando de 1,7 milhão para 3,2 milhão. Isso tem alguns motivos também: as pessoas já sabem que a bolsa não cai para sempre, os juros da renda fixa estão ridículos e, ao mesmo tempo, há uma noção de que, uma vez saídos da pandemia a economia deve recuperar suas forças.
Quer dizer: do final de 2018 até o final de 2020, dois anos, o número de pessoas “comuns” na bolsa quadruplicou. A empolgação com a renda variável continua apesar de tudo e apesar de tantos terem entrado no topo do mercado, vendo suas economias derreterem pela metade, vendendo seus ativos por uma fração do que pagaram para entrar. Ainda tem muito para crescer: pouco mais de 1% dos brasileiros estão investindo em ações.
É. Mas nada impede que a bolsa não caia novamente.
Muitas das pessoas que entraram nela em 2020 durante o período em que houve uma rápida recuperação da grande queda que tivemos entre março e abril estão colocando todas as suas economias em ações. E, a exemplo de seus colegas de 2019, podem levar um grande susto.
Por isso, gostamos de lembrar que, para investir em renda variável, é preciso cautela e conhecimento. Nem todas as pessoas sabem o que é ver as suas economias, de uma semana para a outra valerem a metade. Que seja apenas R$ 50 mil (apenas… eu sei que para a maioria dos brasileiros esse valor é enorme)… “perder” R$ 25 mil é um conhecimento que só sabemos como vamos reagir na prática. Muita gente não terá o sangue frio para esperar uma recuperação ou ainda mais sangue frio para comprar mais ações, aproveitando que o preço das companhias está “em liquidação”. E muita gente que diz hoje que tem, na verdade, não tem.
Por isso, defendemos que, se você estiver no time daqueles que querem comprar ações vá devagar. E, acima de tudo, procure fazer um curso que apresente a realidade do mercado, com o entendimento das leis que fazem o preço subir e descer.
Por exemplo, por mais que quase 4 milhões de investidores pessoas físicas pareçam muita gente, o dinheiro que está nas mãos deles, somado, não chega nem perto dos maiores investidores institucionais (big players). Esses investidores institucionais são responsáveis por mais de 80% dos negócios nas bolsas mundiais. Alguns deles têm faturamentos e patrimônios superiores aos PIBs de muitos países. E, quando, os investidores que entrarem agora começarem a vender desesperados por qualquer queda monstruosa que aconteça na bolsa, são os big players que estarão fazendo o “favor” de comprar.
Isso considerando que, segundo o documento divulgado pela B3, 98,99% dos investidores da bolsa são pessoas física. Apenas 1,01% são pessoas jurídica. Esses 1% têm dezenas de vezes mais dinheiro – talvez centenas – em jogo que o restante 98,09%. E olha que o documento mostra que esses 98,09% representam R$ 424 bilhões.
Um número tão grande de investidores entrando na bolsa em um único ano – quase um milhão e meio só em 2020 – só tem um significado para os big players: carne nova para colocar no moedor.
Desse modo, recomendamos um curso que dê a compreensão real de como atuam estes participantes fortes no mercado. O Raio X Preditivo considera o volume de negociação como a informação mais importante para entendermos a atuação de quem comanda o mercado e, assim, vamos evitar comprar ações em topos históricos e vender em fundos e passaremos a trabalhar como os big players: comprando fundos e vendendo topos.
Muito bom!