Será mesmo que Charles Dow estava errado?
Bom… agora que ganhei a sua atenção ao contestar Charles Dow, posso fazer um “mea culpa”…
Afinal, quem sou eu na fila do pão para dizer que Charles Dow, o criador da Teoria de Dow e do índice Dow Jones, ambos referenciais já há décadas, está errado?
Não, ele não está errado.
Mas talvez suas leis venham sendo usadas de formas erradas.
Em primeiro lugar, as leis foram criadas através da observação inteligente do mercado.
Por isso, elas têm um caráter, eu diria, um tanto tautológico (redundante).
Vejamos algumas delas. O sexto princípio da Teoria de Dow é ótimo para isso.
“Uma tendência permanece enquanto não houver sinal de reversão.”
Quer dizer: enquanto a tendência for de alta, essa tendência de alta se mantém enquanto não houver sinal de que, agora, a tendência é de baixa.
Vamos traduzir para a linguagem “climatológica”:
Enquanto estiver chovendo, estará chovendo, a não ser que a chuva pare, pois, aí parou de chover.
É mentira? Não. É a mais pura das verdades.
Mas me ajuda depois que eu saí de casa carregando um guarda-chuva quando poderia ter esperado um minuto até que a chuva parasse? Não.
E, agora, que a chuva parou, o tempo permanece seco enquanto não voltar a chover.
A verdade é que a teoria de Dow nunca teve como objetivo “prever” o que o mercado vai fazer.
A Teoria de Dow tem diversos outros princípios. Mas, quer saber?
A maioria dos cursos que tentam ensinar negociação na bolsa de valores focam exatamente nesse. Até faz sentido. Se o preço de uma ação está subindo, devo comprar ou vender essa ação? Por esse princípio, baseado unicamente na observação do preço, devo comprar, pois, em tese, uma tendência pode ir “até a lua”, como já vi gente dizendo por aí.
Mas, o preço vai até a lua? Não. Não vai. Chega um momento em que começa a cair e não temos como saber, baseando-se no próprio preço quando uma provável reversão acontecerá. Só podemos saber quando JÁ aconteceu.
Resultado disso: entradas atrasadas em operações, saídas atrasadas e até saídas e entradas que não se confirmam, pois “loco que começa a fazer sol e eu saio de casa sem guarda-chuva, começa a chover de volta; então, eu busco o guarda-chuva e volta a fazer sol!” Acho que você entendeu que estou falando de algumas violinadas.
Tem um outro princípio mais útil, mas que, igualmente, acaba sendo usado de forma equivocada:
“O volume deve confirmar a tendência.”
Assim, diversos métodos baseados em preço, quando veem o rompimento de um topo anterior com volume grande de negócios apontam: “Opa! Confirmação de tendência! Além de romper o topo, foi com volume!”
Porém, um entendimento mais claro do funcionamento do volume nos faz olhar com cautela para esse comportamento: será que não se trata de um sinal de exaustão do mercado? Um momento em que os grandes players distribuem ativos para os possuidores fracos que vivem o frenesi de uma euforia máxima?
Se assim for, o usuário da Teoria de Dow irá comprar. Enquanto um estudioso do volume, irá justamente no caminho oposto: ou irá esperar para ver o que acontece, ou imediatamente vai vender, pois, sabe que o próximo passo do grande player é agredir na venda e fazer os preços caírem.
Todos os outros princípios podem ter vieses de leitura a partir do preço simplesmente ou considerando o volume como parte da equação. Sem dúvida, o volume é a informação mais importante, pois ele reflete o comportamento da demanda e da oferta. Se tivermos acesso de quem está agredindo – compra ou venda – tanto melhor, pois assim sabemos quem está no controle do mercado e de que maneira.
Logo, não é a Teoria de Dow que está errada: está errada a forma como esses princípios são aplicados.
Com metodologias que aplicam o volume como material de tomada de decisão – como o Raio X Preditivo -, tudo começa a fazer sentido e os princípios ficam mais preditivos. Dificilmente você vai sair de casa levando um guarda-chuva num dia de sol.