Entenda como Paul Rotter ficou milionário realizando operações de scalper
Cada pessoa tem um estilo. Alguns são mais pacientes e parcimoniosos como Luis Barsi, o brasileiro que é considerado o maior investidor pessoa física da bolsa brasileira. Aliás, Barsi até condena veementemente o comportamento do personagem principal deste texto, Paul Rotter. O estilo de Rotter está no extremo oposto do de Barsi: ele não só é day trader. Ele é scalper. Ou seja, faz para lá de cem operações diárias entre compra e venda de ativos.
Então, de um lado, temos Barsi, comprando e segurando suas ações por cinquenta anos e só vendendo em último caso.
Por outro lado, temos Rotter, comprando ativos, derivativos, contratos, qualquer coisa que respire, e vendendo dez segundos depois com um pequeno lucro. Principalmente no Eurex, principal mercado futuro da Europa, onde são negociados contratos futuros e afins no continente.
Até pouco tempo atrás sua identidade era meio misteriosa. Era conhecido como The Eurex Flipper. O Golfinho da Eurex. O que Rotter tem de tão inspirador? O fato de ele ser um trader como eu ou você, que não trabalha para uma grande empresa, para um grande investidor institucional e, ainda assim, ele consegue pensar como os grandes, agir de acordo e fazer fortuna. Há gente que ainda duvida que ele tenha esse perfil ou mesmo que exista. Deve existir, porque ele até tem um site: rotterinvest.
O modo agitado de investir de Rotter funciona?
Para Rotter funciona – apesar de Barsi dizer que nunca conheceu alguém que tenha ficado rico especulando, ainda mais nesse tempo operacional. Rotter, segundo a lenda, faturou entre US$ 65 milhões e US$ 78 milhões por ano ao longo de dez anos, fazendo scalping dos contratos mais líquidos na Eurex.
Um scalper como Rotter faz cerca de cem negócios por dia. Deve ter um bom pacote de corretagem, hein? Por mês isso daria, em valores daqui, uns R$ 2 mil só de corretagem. Isso se ele negociasse apenas um contrato por vez. Ele ficava na faixa de 180 mil contratos por dia. Já pensou? Você posicionado em duzentos contratos que fossem?
Um scalper não busca longas tendências. Ele quer pegar apenas os próximos ticks e apenas três ou cinco. Para fazer uma equivalência, no nosso mini dólar isso seria um ponto e meio a dois pontos e meio. E, no mini índice, 15 a 25 pontos.
Como todo scalper que consegue ser bem sucedido, ele tinha uma regra que todos deveriam ter para saber quando parar: uma meta para perdas diárias. E uma meta para ganhos diários. Esta última é fundamental para não transformar um dia lucrativo em um dia desastroso. E a diferença entre um trabalho normal (um pouco diferente, mas normal) e um hábito compulsivo.
E quando entrava em posições perigosas, com grandes somas envolvidas, também sabia fechá-las sem dó. “Como trader, você não deve ter opinião. Quanto mais opinião você tiver, mais difícil fica sair de uma posição perdedora”, diz. A opinião que verdadeiramente conta é o dinheiro que está saindo porque a operação não andou. É isso que conta.
Em seus melhores momentos, ficava mais agressivo, aumentando a mão, comprando ou vendendo mais contratos (no caso de posições vendidas). Isso pode ser perigoso. Então, ele sempre contou com um amigo para fazê-lo desligar seu terminal na hora do descontrole. Alguém tinha que botar um limite naquilo!
Ainda que o comportamento de um scalper de sucesso possa parecer errático, devido ao volume de suas operações, todas em sentidos variados, ora de compra, ora de venda, há método nessa loucura. Tem de haver: Rotter sempre baseou suas escolhas em uma análise profunda do mercado.
Ainda que, na hora do trade, só o preço interesse – o preço e o volume – Rotter era conhecido por, antes de começar a operar, ficar a par de todos os relatórios econômicos que serão publicados naquele dia e que podem afetar a volatilidade dos ativos, bem como discurso de figuras políticas influentes, presidentes de bancos importantes, tirando um retrato de tudo o que pode acontecer naquele dia.
Entre as técnicas que ele usava – agora parou de fazer trades tão curtos – era colocar ordens enormes de compra e venda que não chegava a executar: a possível ilegalidade de tal prática o intimidou, embora ele saiba e todos saibam que os robôs de alta frequência fazem isso a toda hora, todos os dias em todas as bolsas de valores.