Um investidor bailarino que pensava fora da caixa: Nicolas Darvas
Possivelmente esta será a primeira e única vez que vamos falar aqui de um trader que, além de investidor, era dançarino.
E húngaro. Chegou aos EUA fugindo dos nazistas. Entre um ensaio e um espetáculo e outro ele arranjou tempo para ler uns 200 livros de finanças e, ao que parece, se deu bem ao transportar a teoria para a prática.
Nascido em 1920, Nicolas Darvas ficou conhecido por seu sistema de trade, o Box Trading System, apresentado em seu livro Como Ganhei US$ 2 Milhões no Mercado de Ações, e também conhecido como Sistema Darvas.
Não se trata de propriamente de um sistema de “caixa” – esse termo poderia se referir ao padrão desenhado pelo preço nos gráficos, mas não é o caso – e também não se aplica, necessariamente, ao day trade. Embora tenha seu quê de análise técnica, tem um tanto de análise fundamentalista envolvida.
O sistema de Darvas não só se focava em cortar trades perdedores quase que imediatamente como também só investir em trades que tivessem o potencial de dobrar, triplicar ou quadriplicar o valor investido em alguns meses.
Ele desenvolveu uma lista de critérios que ajudava a definir os ativos com maior possibilidade de que isso acontecesse.
Usando esses critérios, de fato, ele transformou US$ 30 mil em US$ 2 milhões, o que, para a década de 50 equivalem a algo próximo de US$ 18 milhões de hoje.
Gostaria de conhecer os critérios desse bailarino húngaro?
- Só comprar ações de companhias cujo prospecto e potencial de crescimento sejam altamente positivos.
- Evitar companhias que sejam tão gigantescas que o seu crescimento em um volume substancial seja improvável.
- Checar a tendência geral do mercado e identificar quais companhias estão acompanhando ou superando essa tendência.
- Checar quais ações pertencem a um setor econômico que está com uma boa performance, isto é, um setor que esteja indo melhor que outros setores.
- Só considerar ações cujo preço seja acompanhado de um alto volume.
Ele observou que diversas dessas ações se comportavam dentro de uma faixa de preços. Quando investia em uma ação, Darvas esperava que esse comportamento se repetisse em faixas cada vez mais altas: máximas cada vez mais altas e mínimas, também, cada vez mais altas.
Grandes fundos, investidores institucionais, têm o poder de movimentar ações dessa maneira e, Darvas, com seu sistema, simplesmente obtinha a habilidade de acompanhar esses movimentos.
O método de Nicolas Darvas tira proveito do fato de se ser pequeno: o pequeno investidor consegue entrar e sair de posições, vantajosas ou difíceis, facilmente. Enquanto isso, os institucionais precisam se movimentar lentamente, justamente pelo tamanho de suas posições.
Uma curiosidade sobre Darvas: ele nunca operou vendido – em uma “short position” em inglês. Mas, em 1977, ele disse em uma entrevista que o mercado havia mudado tanto que os investidores sérios deveriam considerar seriamente fazer isso.
Operar vendido ou estar em uma “short position” é vender sem ter a ação, apostando que o preço vai cair. Para isso, o investidor aluga as ações de algum outro investidor. Se estiver fazendo day trade, nem isso é necessário. Quando a ação cai, ele a compra de volta e embolsa a diferença de preço.
Quarenta anos depois dessas palavras de Nicolas Darvas, a venda descoberta, como é chamada, é acessível a qualquer cidadão que opere na bolsa de valores.