Já falamos aqui de diversos traders que aproveitaram a crise dos subprime em 2008 para lucrar fazendo a aposta que, então, parecia perdida, contra o mercado imobiliário estadunidense. Talvez Michael Burry não tenha sido o que lucrou mais, mas certamente foi um dos primeiros a ver os problemas que todas aquelas hipotecas iriam causar.
Aliás, Michael Burry é um dos personagens principais do filme The Big Short (A Grande Aposta) que retrata todo o cenário por trás da catástrofe econômica. No filme, quem interpreta o médio “caolho” foi Christian Bale. Aliás, excelente interpretação: rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante em 2016.
Michael Burry, nascido em Nova York, em 1971, encabeçava na época a Scion Capital LLC, empresa de fundo de cobertura (hedge fund) fundada em 2.000 e que durou até 2008. O olho perdido para um câncer aos dois anos de idade o tornou extremamente retraído. E, por alguma razão, disciplinado. Enquanto cursava medicina, já tinha um influente blog sobre finanças e investimentos. Não demorou para largar a neurologia e fundar a sua empresa.
A grande jogada de Michael Burry foi criar os derivativos de crédito – fazendo o “seguro” daquela provável inadimplência toda –, ficou rico com isso e enriqueceu muita gente que estava apostando em seu fundo. Diz ele que sua visão de “outsider” fazia com que ele visse os contextos de uma maneira diferente da de outros analistas.
O filme retrata quanta pressão os papeis criados por ele sofreram. Os subprimes, por si só, já eram complexos. Os derivativos criados por ele demoraram a subir de preço e muita gente quis que ele desistisse. Para efetivar sua operação, Michael Burry precisou, obcecadamente, ler dezenas de prospectos de mais de cem páginas cada sobe os bônus ligados aos subprime.
Feito o trabalho de casa, ele não teve dificuldade em perceber que muitas daquelas famílias a quem se tinha concedido o crédito para comprar suas casas estavam com problemas para pagar as dívidas.
Convenceu, então, o Deutsche Bank e o Goldman Sachs a venderem pesado os derivativos que apostavam contra os subprime (chamados de CDS – Credit Default Swaps).
O problema é que a operação demorou a andar. A bolha não estourou tão rápido quanto se esperava. Esse é o preço da ousadia: estar à frente dos outros até demais. Diversos investidores tiraram o apoio de Michael Burry e sacaram seu dinheiro do fundo.
Mas estes se arrependeram. Logo a crise estourou, os papeis criados por Burry desvalorizaram (sim, quando operamos na venda, esperamos que os papéis que vendemos caiam) e a Scion lucrou US$ 1 bilhão. Michael Burry largou a empresa e cuida só de suas finanças pessoais.
O interessante é que, ao ver que as dívidas imobiliárias de risco dos Estados Unidos estavam condenadas à inadimplência e que, portanto, logo não valeriam nada, não havia como operar vendido. Operamos vendidos quando o preço de um ativo vai cair e esperamos recompra-lo mais barato à frente. Acontece que não havia um papel que agrupasse todas essas dívidas. Michael Burry teve que cria-los. Muitos investidores os compraram acreditando na alta.
Deu no que deu.
Recentemente, em 2013, reabriu a Scion. Sua nova aposta? Água.