O gerente de banco não é má pessoa.

Pelo contrário, muitos dos gerentes de banco estão interessados em que você consiga pagar os juros do cheque especial e de outros financiamentos e que você tenha dinheiro para comprar aquele título de capitalização ou que, até mesmo, consiga poupar um pouco de dinheiro na caderneta de poupança.

Quem sabe, ele queira se tornar um investidor de um dos fundos de ações ou multimercado oferecidos por seu próprio banco (com taxas de administração altíssimas e remuneração nem sempre tão boa).

O problema é justamente esse: o gerente de ações trabalha pra você, mas o compromisso maior desse profissional é com sua própria empresa, com seu empregador, o banco.

Portanto, existem motivos para que ele não tenha oferecido o mercado de ações para você:

1. Compromisso com os produtos do banco: mesmo que ele ofereça produtos diferenciados (como fundos), sempre serão fundos do banco. Normalmente, o gerente de banco tem compromisso em vender “investimentos” como fundos de capitalização (um nome disfarçado para loteria), seguros ou consórcios. Se você começar a investir em ações, não terá dinheiro para comprar essas coisas
2. O seu dinheiro tem que ficar no banco: mesmo que o banco tenha uma corretora sob seu guarda-chuva, as taxas dessa corretora não serão as mais vantajosas. Assim que você começar a investir na bolsa descobrirá como é fácil e seguro investir através de corretoras independentes, com melhores taxas e atendimento mais especializado. Além disso, as corretoras independentes não têm compromisso com nenhuma companhia financeira, podendo oferecer investimentos de bancos menores que têm remuneração melhor
3. Ele acredita que você não tem capacidade de ganhar dinheiro na bolsa de valores: se você perder, isso significa que terá menos dinheiro para os “investimentos” que ele tem que oferecer a fim de bater as metas impostas pelo empregador dele. Lembre-se: o interesse do gerente do banco é que o seu dinheiro fique na agência dele, nem que seja na caderneta de poupança
4. Nem ele sabe direito como a bolsa funciona: ele pode até acompanhar a cotação do Ibovespa, mas provavelmente tem noções muito elementares do mercado de ações. Pergunte se ele já usou alguma plataforma gráfica de negociação, se já esteve posicionado em minicontratos no day trade ou se tem ideia da influência do volume de negócios sobre o deslocamento de preços dos ativos. Se ele souber, será a exceção que confirma a regra
5. O gerente de banco está preso aos paradigmas do século passado: mesmo agora, com toda a divulgação que corretoras e a B3 vêm fazendo, o aumento da acessibilidade financeira e dos serviços, apenas 0,3% da população está presente na bolsa de valores. A tendência é que esse número aumente nos próximos anos. Mas até o começo deste século a bolsa de valores era vista como algo apenas para gente rica. E, de fato, era difícil abrir conta em uma corretora, tanto financeiramente quanto em termos de burocracia. Hoje podemos abrir uma conta em minutos e comprar e vender ações de casa mesmo, a partir de um computador conectado à internet

Mais uma vez, é preciso ressaltar que os gerentes de banco não fazem isso por mal. Acontece que o sistema a que eles estão presos e o vínculo empregatício que mantém os faz serem mais fiéis ao banco que a você, cliente.

Considere conhecer o profissional denominado como agente autônomo de investimento. Você recebe gratuitamente o acompanhamento de um quando abre a conta em uma corretora. Claro que ele tem uma comissão sobre alguns dos produtos que indica, porém, o sucesso dele está ligado diretamente ao seu: o compromisso dele é com você, não com a corretora.

Além disso, ele tem a liberdade de indicar investimentos em qualquer instituição financeira, com as melhores taxas e remunerações. Ele vai inclusive lhe dizer se é realmente o momento de você investir na bolsa de valores, se isso se adequa ao seu perfil e se, antes, não seria melhor fazer um bom curso sobre o tema.