Talvez você não tenha ouvido falar do nome Jordan Belfort, mas você já ouviu falar de O Lobo de Wall Street e da notável interpretação de Leonardo DiCaprio desse interessante personagem da bolsa de valores dos Estados Unidos.
O filme de Martin Scorcese, divertidíssimo, retrata de maneira mais ou menos fiel a vida desse empresário da bolsa de valores (não, na realidade não havia coisas politicamente incorretas como arremessos de anão na empresa nem um macaco foi levado para o escritório… mas uma funcionária raspou a cabeça, sim, em troca de US$ 10 mil).
Hoje Belfort não é mais corretor da bolsa e se dedica a dar palestras motivacionais. Certamente não será a primeira vez na história que um criminoso condenado (e que supostamente já pagou sua dívida com a justiça) é recebido fervorosamente por plateias animadas a obter seus preciosos conhecimentos do mundo do cri… dos negócios.
Jordan fundou a Straton Oakmont na década de 80. A Straton era especializada em vender o que chamamos de small caps. Mais do que isso, era especializada em comercializar as chamadas “pozinhos”, como chamamos por aqui, ou “penny stocks”, como chamam por lá, ações de pequenas empresas ou suficientemente desvalorizadas e que, assim, custavam centavos.
Quem viu o filme sabe que a coisa não era assim tão inocente: em 1998 ele foi acusado de lavagem de dinheiro e fraudes na bolsa de valores, sem falar em evasão de impostos com contas no exterior. Aparentemente, ele deu o golpe em 1500 clientes. Em 2003, finalmente, depois de muita negociação, muitos acordos, ele recebeu uma pena de apenas quatro anos por suas falcatruas.
A carreira de Belfort – que alguns dirão que foi de sucesso, apesar de tudo – começou com um fracasso. Nos seus primeiros dias de trabalho, testemunhou a segunda-feira negra de 1987: a empresa em que trabalharia foi a falência (assim como muitas outras).
Que dias para começar na bolsa… mas ele não desistiu.
A solução, depois de obter relativo sucesso vendendo ações em uma empresa menor, para que seu estilo agressivo de negociar pudesse se expandir, foi criar a sua própria empresa com alguns amigos encrenqueiros.
E, assim, ele mostrou que, sim, é possível faturar milhões e milhões vendendo ações que custam centavos.
Aliás, ele afirmou ter gasto, entre o sucesso de sua empresa e a sua condenação, o equivalente a US$ 8 bilhões com iates, mulheres, casas, substâncias pouco recomendáveis – como álcool e “outras” – em quantidades industriais.
Numa entrevista ao programa Piers Morgan Live, pouco antes da estreia do filme de Scorcese, o apresentador leu uma lista de nomes de pessoas que perderam entre US$ 130 mil e US$ 250 mil por causa das picaretagens do pilantra. Mesmo diante do depoimento de algumas dessas pessoas, ele disse não se arrepender: disse preferir não lidar pessoalmente com as vítimas, deixando isso para as autoridades. Além do tempo no xadrez, ele foi condenado a pagar US$ 220 milhões aos lesados.
Mais recentemente, Belfort afirmou que o Bitcoin e outras criptomoedas são fraudes. Agora, nos resta pensar se ele – como especialista em fraudes que é – está dando uma avaliação sincera ou está apenas blefando ou se, afinal, está querendo comprar a moeda mais barato.