Kerviel, o cara teve a manha de elaborar uma fraude de US$ 7 bilhões no mercado francês em 2008 e, dois anos depois, em 2010, lança um livro chamando os traders de prostitutas.
É óbvio que não compactuamos com as palavras e as práticas desse senhor, mas não deixa de ser uma história interessante de se contar.
O francês Jérôme Kerviel foi acusado de operações fraudulentas enquanto era operador de mercado do banco Société Générale.
Ele entrou para a instituição no ano 2000 e era operador de mercados futuros, em Paris. Seu salário, frente a tantos outros personagens de que falamos por aqui, era modesto: cem mil euros por ano.
Como você já deve saber, essas mesas institucionais, de grandes bancos, lidam com milhões, quando não com bilhões diariamente. Talvez, de tanto ver tantas cifras enormes passando sob seus olhos, Kerviel começou a ficar tentado.
Kerviel começou a fazer operações por conta própria. De começo, ele começou a criar transações fictícias, primeiro de valores pequenos e com menos frequência, mas tanto os valores quanto a frequência delas foram escalando.
A ideia era criar negócios com prejuízo para encobrir negociações com lucro anteriores e, supostamente, segundo seus acusadores, ficar com uma parte desses valores.
Os negócios criados e arbitrados por Kerviel chegaram a soma de 49 bilhões de euros, valor maior até que a capitalização total do banco.
Agora, é a hora que a gente pergunta como é que um banco permite que um zé das couves qualquer lide com quase 50 bilhões de euros como se fosse nada?
A partir de 21 de janeiro de 2008, o banco descobriu o andamento dessas fraudes e durante três dias passou a fechar as posições.
Como você sabe, em 2008, os mercados mundiais já não iam muito bem por causa da crise do subprime, mercado imobiliário de risco, que começava a tomar conta de tudo. Com isso, o prejuízo do banco chegou a 4,9 bilhões de euros.
Ainda não se sabe ao certo se Kerviel fez tudo sozinho, se ele não passou de um bode expiatório e de cortina de fumaça para prejuízos ainda maiores que o banco sofreu – um plano para desviar a atenção da mídia, dos clientes e do mercado.
Muitos analistas acreditam que sim, o cargo de Kerviel e a sua posição na empresa permitiam que ele fizesse isso. Em dezembro de 2007, um mês antes, ele havia dado um lucro de US$ 2 bilhões ao banco, por exemplo.
Na verdade, a situação é tão obscura e intrincada – como tudo o que envolve somas inimagináveis de dinheiro -, que em junho de 2016, o banco francês foi condenado a pagar quase meio milhão de euros para Kerviel por, segundo as palavras do tribunal trabalhista francês, ter sido demitido “sem motivo real e sério” e “em condições vexatórias”. Sim, uma fraude de 5 bilhões de euros não é um motivo real e sério.
Em março de 2014, Kerviel foi condenado a cinco anos de prisão por abuso de confiança, falsificações e introdução de informações fraudulentas de dados no sistema de negociação do banco.
Tudo isso, a essa altura do campeonato, supostamente. Ele já cumpriu três anos, mas sua defesa alega que o banco sabia dos riscos e de tudo o que estava acontecendo.
Depois de tanta confusão financeira – e considerando as somas envolvidas – a minha impressão é que jamais saberemos a verdade.
Ah, sim, se você quiser comprar o livro de Kerviel para entender um dos lados da questão, o nome é “L’Engrenage, Mémoires d’un trader” (A Engrenagem, Memórias de um operador de mercado, em tradução literal).