O cara era o investidor mais velho do mundo quando morreu em 2015. Nascido em 1905, Irving Kahn era tão fera que lucrou em quase todas as crises da bolsa de que se tem notícia. Pegou todas as fases desde aquela época.
Para você ter uma ideia, ele chegou a conhecer Benjamin Graham e foi um de seus primeiros discípulos da metodologia do value Investing, sendo também seu assistente na Universidade de Colúmbia. Warren Buffet, um jovem perto dele, foi um de seus alunos.
Começou na bolsa de valores em 1928. Aí a gente pensa: que momento para começar. Provavelmente, a maior parte das pessoas que começaram nesse ano no mercado mobiliário se viram em maus lençóis. Não Irving Kahn.
Irving Kahn, que foi presidente do Kahn Brothers Group, Inc., consultoria de investimento e empresa corretora que ele fundou com seus filhos, em 1978, no ano do Grande Crash da Bolsa Americana simplesmente dobrou seu capital ao prever a catástrofe econômica. E fez o mesmo nas outras dezenas de crises maiores e menores que atingiram os mercados até a sua morte.
Como seguidor dos ensinamentos de Graham, era paciente: “Se o mercado está caro, o investidor tem de esperar”. Dizia: “Estou no palco da vida e nele eu sinto muito prazer ao encontrar uma ação realmente barata.” Segundo um dos seus filhos, pouco antes de ele morrer: “Meu pai continua pesquisando idéias e conversando com as empresas. Uma das coisas boas sobre esse negócio é que não há idade de aposentadoria obrigatória. Você, supostamente, é mais sábio a medida que envelhece.”
Irving Kahn junto com sua irmã e seus dois irmãos formava o quarteto mais velho do mundo, mostrando que a longevidade estava nos genes e não na sua vida desregrada e trabalho compulsivo até a sua morte.
Não gostava de se expor ao risco do curto prazo. Fundamentalista, preferia comprar ações que estivessem baratas de empresas de que ele gostasse por seus mercados e seus fundamentos. Se a ação caísse de preço e as razões de ele gostar da empresa (fossem financeiras ou de mercado) permanecessem as mesmas era capaz de comprar mais ações, sem temer o futuro.
Também adotava a prática de escolher investir em empresas que estivessem presentes na vida das pessoas e que estarão durante muito tempo: a velha filosofia de “que todo o mundo precisa de uma camisa”.
Irving Kahn não cansava de insistir que o investidor de longo prazo precisa controlar suas emoções: resistir em vender em uma queda acentuada e em comprar em um rali de alta. O importante, para ele, não eram os movimentos mas os juros compostos ao longo de uma vida e o conhecimento sobre a ação que se estivesse comprando: saber mais sobre ela do que quem a está vendendo.
Quem quer investir assim precisa, obrigatoriamente se dedicar aos relatórios das empresas, entende-los, esmiuçá-los, de forma a retirar deles todas as informações financeiras. Claro que, no começo, tudo parece grego, mas com o tempo, só de bater o olho o investidor sabe se o preço de uma ação está bom ou não só pelo jeito que as coisas estão ali escritas.
Ainda que você seja um trader de curto prazo – tipo de operação abominada por Irving Kahn – há diversas lições que podem ser aprendidas com o estilo desse investidor centenário.