O cara era conhecido como o “Senhor Cobre”. Também como “Senhor Cinco Por Cento”, que era a porcentagem do mercado desse metal que ele dominava. O investidor japonês Yasuo Hamanaka não era, definitivamente, qualquer um. E é ele um dos personagens centrais de um dos maiores escândalos de manipulação de mercado da história mundial.
Hamanaka era o comandante das operações de cobre da Sumitomo Corporation, uma das maiores companhias do Japão. Em 13 de junho de 1996, a empresa relatou uma perda de US$ 1,8 bilhão de dólares em uma negociação não autorizada entre Hamanaka e a London Metal Exchange. Na verdade, como se descobriu quatro meses depois, as perdas eram de US$ 2,6 bilhão.
Na ocasião em que isso aconteceu, a cotação do cobre, como um todo, mundialmente, teve uma queda aproximada de 10%.
Para a Sumitomo, uma das empresas responsáveis pelo crescimento do oriente no cenário econômico nas últimas décadas, foi uma notícia terrível. A companhia atuava em diversas áreas. Só em metais diversos, anualmente eram compradas 800 mil toneladas por ano. E, neste segmento, o principal era o de cobre.
Mas, então, Hamanaka ia muito bem em seu trabalho de negociação: assim, tinha liberdade total para fazer o que quisesse. Uma liberdade, digamos, excessiva.
E ele resolveu dar uma de malandro: ele mantinha dois trading books. Em um, mostrava aos chefes lucros astronômicos da negociação de compra e venda do metal e nas opções sobre o cobre e no mercado futuro. No livro dois, ele registrava uma conta sombria: saldo negativo já na casa dos bilhões.
Em 1995, a empresa japonesa foi chamada a colaborar com uma investigação sobre manipulação do mercado de órgãos reguladores dos Estados Unidos e do Reino Unido. Como os chefes de Hamanaka achavam que não tinham nada a esconder, prontamente ofereceram ajuda. E, de quebra, abriram uma investigação interna para confirmar a sua lisura.
Já em maio de 1996 um auditor interno começou a encontrar indícios de que algo estava errado, como uma transação não autorizada realizada um mês antes com uma instituição um tanto suspeita. O valor não era aquelas coisas (certamente uma merrequinha de alguns milhões de dólares apenas), mas serviu para começar a puxar a fiada de problemas.
A Sumitomo começou a ficar desconfiada de Hamanaka. E logo os problemas começaram a vir a tona.
A “promoção” de um dos diretores, naquele ano, para um cargo mais subalterno, começou a deixar os outros players do mercado alvoroçados, indicando que havia alguma coisa de errado. Logo, diversas empresas que estavam negociando cobre começaram a se desfazer de suas posições. Mesmo a Sumitomo começou a vender. Em quatro dias, o cobre caiu 15%: quando há muita gente querendo vender o preço cai.
Na verdade, por causa do clima de desconfiança, todo o mercado de commodities, em 1996, estava uma loucura. Se não se podia confiar na Sumitomo, em quem se poderia?
Hamanaka se viu pressionado “só” pelo mercado mundial inteiro e se abriu com seus chefes: eram 10 anos de irregularidades.
SÓ AGORA VEM A PARTE IMPORTANTE
Estou contando essa história toda para você por um motivo e ela não é sobre um funcionário corrupto.
A Sumitomo sobreviveu graças a seu patrimônio de US$ 50 bilhões. Mas – e, agora, atenção – processou a UBS e o Chase Manhattan Bank por terem ajudado o trader safado em seu esquema.
A UBS e o Chase são essas casas, essas mesas enormes, que movimentam o mercado diariamente. Será que sabiam o que estava acontecendo? Será que não estavam propositadamente em posições vendidas em cobre quando a casa caiu?
No fim a UBS fez um acordo e pagou US$ 85 milhões à Sumitomo em 2006. O Chase que, naquele ano, já era do grupo JP Morgan Chase, pagou US$ 125 milhões. O que para essas empresas não é absolutamente nada.
Eu ou você pouco podemos fazer contra tais manipulações. Mas podemos encontrar pistas de quando elas estão acontecendo antes mesmo de que elas apareçam nos jornais, sejam elas feitas de forma legal ou de formas ilegais e imorais.