O momento em que uma empresa entra na bolsa de valores, quando ela abre capital e suas ações passam a ser negociadas no mercado brasileiro sempre é motivo de alegria e otimismo para os integrantes de sua diretoria.
Sim, porque a companhia, nesse momento, passa a fazer parte de uma elite que preferiu contar com investidores de menor e maior porte para financiar seu crescimento a ter de recorrer aos caros empréstimos nas instituições financeiras. Abrir o capital tem seus riscos? Tem. Mas também tem muitas vantagens.
Atualmente, inclusive os momentos de abertura de capital são o único momento em que o pit, em que eram negociadas as ações no pregão viva voz, volta a ser utilizado. Tudo muito simbólico e festivo.
Porém, não foram poucas as empresas que decidiram abrir o capital para, a seguir, verem seus resultados descambarem, para infelicidade de todos os envolvidos e inclusive de quem comprou as suas ações.
Vamos conhecer algumas dessas empresas:
OGX
Esse é o caso mais famoso. Fundada por Eike Batista e Rodolfo Landim, a OGX era um caso cheio de promessas que envolviam descobertas petrolíferas e outras fontes de riqueza. Tudo ovo no… er… na barriga da galinha ainda. Chegou a ter 51 mil sócios minoritários pessoa física. Que viram as ações saírem de R$ 26 para R$ 0,20. Toda a mídia já o chamava de barão do petróleo antes mesmo de ter extraído uma única gota do precioso líquido. A IPO da empresa captou quase R$ 7 bilhões e quase 70% desse capital vinha de investidores estrangeiros. O resto da história todo o mundo conhece: os poços não deram nem perto do que deviam dar, Eike sofreu várias acusações, inclusive de insider trading e corrupção.
Oi
E o que dizer da Oi, hein? Considerando todas os grupamentos de ações, seus papeis, em 2012, chegaram a valer R$ 114. Hoje, cada ação da empresa em recuperação judicial não passa dos R$ 3. Espero sinceramente que você não tenha comprado esses ativos.
Banco Daycoval
Investir em instituições financeiras sempre é bom, não é mesmo? Nem sempre. O Banco Daycoval é um banco de porte médio que chegou abrir capital em 2007 mas, dez anos depois, achou por bem fechá-lo por meio de uma OPA (Oferta Pública de Aquisição), o processo inverso de uma IPO. O banco lançou seus papéis a R$ 9,315 em junho de 2007, ou seja, um pouco acima da cotação de fechamento do capital (R$ 9,08). Quem investiu nele não chegou a ter prejuízos gritantes, mas é meio que uma decepção ser obrigado a encerar um investimento com perdas depois de 10 anos.
Na mesma época, outros bancos de médio porte aproveitaram para sair da bolsa de valores: BicBanco, Pine, Sofisa, Indusval, Banco Pan e Cruzeiro do Sul. Diversos deles, no entanto, continuam atuando no mercado brasileiro sem maiores incidentes.
Brinquedos Estrela
Qualquer um com pouco mais de quarenta anos conheceu o auge dessa empresa de brinquedos. Ela saiu da bolsa depois de pelejar durante 10 anos contra crises financeiras. A Oferta Pública de Aquisição pagou a bagatela de R$ 0,37 por ação. As ações eram negociadas no mercado brasileiro há sete décadas. Bom, se não foi um relacionamento que deu certo, ao menos ele foi longo…
Tectoy
Pelo jeito, a bolsa de valores não é lugar de brincadeira. A Tectoy esteve na Bovespa durante 23 anos e saiu em 2016 numa OPA que ofereceu 2,1786 reais para cada papel ordinário reais e 1,4515 real para os preferenciais. Foram pouco mais de 444 mil ações preferenciais e cerca de 302 mil ordinárias. Um final melancólico.
Vigor Alimentos
Todo o mundo já viu e ainda vê os produtos dessa empresa nas prateleiras dos supermercados. Porém, a entrada da companhia na bolsa, em 2012, não foi tão vigorosa! A IPO até que foi expressiva, movimentando quase R$ 1,9 bilhão. Mas, você sabe, a empresa é controlada pela JBS, aquela do Wesley Batista. Em 2016, a companhia fechou o seu capital e quase 80% dos investidores aceitaram trocar seus papeis por ações da JBS. No final, na ponta do lápis, o valor de mercado da Vigor ficou em R$ 939,5 milhões.
Petrobras
Sim, a Petrobras. Está firme e forte, ainda. É uma das empresas mais notáveis dentre as brasileiras. Dificilmente sairá da bolsa de valores. Uma das mais importantes do mundo no setor petrolífero. É bom negócio investir nessa companhia certo? Deixei o caso mais emblemático para final. Ela é um excelente exemplo de como encarar a bolsa de valores como investimento é temerário e deve ser visto com reservas. Muita gente comprou ações da Petrobras em 2008, quando chegaram perto dos R$ 50. Dez anos depois, mesmo depois de uma boa recuperação depois da crise que a derrubou até patamares de R$ 4, ela ainda está pererecando na faixa dos R$ 20.
Cadê o lucro no longo prazo das grandes empresas que os analistas prometem? O sujeito está há 10 anos no papel e ele vale menos de metade do que pagou quando entrou em 2008. Aconteceu com a Petrobras, mas poderia acontecer com qualquer grande empresa tão importante e sólida quanto ela.
Nossa postura, dados esses retratos de companhias importantes que entraram na bolsa e naufragaram com maior ou menor gravidade, é de que a bolsa, por estes e outros motivos não é lugar de “investimento” no estrito senso da palavra.
Bolsa é lugar de especulação. E, se você aprender o método certo, você pode fazer parte disso com riscos reduzidos e ganhos potencializados.