A crise do subprime começou antes de 2007, mas só em 2007 é que a insensatez passou a mostrar as suas consequências.
A raiz da crise do subprime está em 1998 quando os EUA começaram a incentivar a concessão de crédito a pessoas com histórico de inadimplência.
Vamos imaginar a seguinte situação: uma pessoa desempregada, provavelmente já com dívidas, recebe a visita de certo profissional.
Esse profissional é alguém cujo trabalho é vender hipotecas. Quanto mais essa pessoa vende hipotecas, mais ela ganha. Então, ela não pensa duas vezes ao conceder emprestado um dinheiro que nem dela é. Quanto mais pessoas desempregadas ela visitar em um dia, melhor: “Assine logo o papel e vamos para o próximo!”
Ela está autorizada, nesse contexto, a vender uma hipoteca a essa pessoa talvez desempregada e com um histórico de crédito ruim, para dizer o mínimo.
Tudo bem! Ele aceita a casa dessa pessoa como garantia, uma casa que, no mercado imobiliário galopante dos EUA, supostamente, vale muito. Deve valer, não é?
Os juros são altos (por se tratar de crédito de risco), mas bem distribuídos, para facilitar a adesão.
Imagine essa cena do vendedor de hipotecas se repetindo milhares, se não milhões de vezes desde 1998.
Algumas pessoas adquiriram quatro, cinco, dezenas de imóveis se aproveitando do incentivo à concessão desse tipo de crédito. Uns imóveis serviam de garantia para outros.
A coisa era tão maluca que algumas pessoas chegaram a hipotecar a sua casa mais de uma vez para diferentes empréstimos. Tudo valia.
Então, os bancos tiveram uma ideia genial: empacotaram essas dívidas em papeis que seriam negociados no mercado mobiliário, os CDO ou obrigações de dívida com garantia. Até que não é má ideia, hein? Eu tenho dívidas de risco e vendo essas dívidas, embolsando um lucro, uma comissão e sabe lá mais o quê, passando o risco a outra pessoa ou entidade!
Claro que os CDO eram interessantes: como eram de risco (por terem sido concedidos a perfis de crédito duvidoso), ofereciam uma chance de ganhos rápidos pois o objeto desse derivativo eram dívidas de juros altos. Surgiram diversos fundos que tinham o perfil de investir nesses papeis.
A Europa comprou CDO a rodo. Como muitos investimentos, os investidores receberiam seu dinheiro de volta, com os juros magníficos, quando os devedores pagassem suas dívidas em uma certa data. E, ora, a casa dessas pessoas endividadas estava como garantia do empréstimo, não é mesmo?
Não tinha como dar errado!
Além disso agências de classificação de risco como a Standard & Poor, Fitch e Moodys (essas que adoram tirar o grau de investimento do Brasil) disseram que os CDO eram, ó, da pontinha da orelha.
Em algum momento, o mercado resolveu colocar a mão na consciência e tentar descobrir o real valor daquelas casas colocadas como garantia e a real possibilidade de as dívidas serem saldadas.
Acontece que o mercado imobiliário, em 2007, então, começou a declinar reduzindo as garantias já escassas dos empréstimos. Ao mesmo tempo, imagine que surpresa, as tais pessoas desempregadas e com histórico de inadimplência não pagaram suas dívidas e a garantia – suas casas – não valia tudo aquilo. Além disso, mais e mais dívidas eram transformadas em suas garantias: sim, os bancos tomavam as casas dos endividados e tinham mais e mais casas para vender e transformar de volta em dinheiro.
O que aconteceu a seguir foi uma bola de neve: os bancos pararam de conceder empréstimos para compra de imóveis, dificultando as compras. Menos compradores? Preços ainda menores. Lei básica de mercado. Muitas casas para vender? Preços mais baixos ainda, por excesso de oferta!
Preços Menores? As garantias dos empréstimos que ainda não tinham ido para o buraco estavam ainda mais insignificantes. E até mesmo quem comprou uma casa por US$ 500 mil começa a se perguntar por que está pagando esse valor e seus juros correspondentes se todas as casas na vizinhança, agora, valem US$ 200 mil… agora sim é que eu não pago! E mesmo quem podia pagar passou a não pagar.
Percebe a confusão que isso é?
O risco dos papeis em que eles estavam “empacotados” se concretizou.
Vendam os CDOs, gritou alguém! Se vendemos um papel que está em queda e pouca gente quer comprar, o que acontece? Temos de baixar mais o preço.
Em 15 de setembro de 2008, o Lehman Brothers foi à falência. As bolsas despencaram. Bancos tiveram perdas bilionárias. O Citigroup e o Merril Lynch perderam quase US$ 10 bi cada um no 4º trimestre de 2007, só para citar dois dos patetas ambiciosos.
No fim da história, o governo dos Estados Unidos ainda teve que bancar o prejuízo recompensando a irresponsabilidade dessas empresas financeiras. Outros países também recompensaram essas empresas enquanto os cidadãos comuns pagaram o preço da irresponsabilidade.
Se você quer aprender mais sobre a crise do subprime, sugiro que você assista ao filme A Grande Aposta ou, se estiver sem tempo, veja estes divertidos vídeos: