Sempre que ouvirmos falar de quebras da bolsa de valores, acentuadas tendências de queda, derretimento generalizado de mercado, tenha certeza de uma coisa: aquilo que antecedeu tudo isso foi uma grande bolha especulativa.
O que há é uma grande euforia na compra de ativos toma conta de todos, os grandes investidores institucionais distribuem (vendem em massa) os papéis que têm disponíveis, às vezes a descoberto e o que se vê depois é a tempestade perfeita.
No Brasil não foi diferente. Não bastasse acompanharmos os crashes mundiais, como o de 1929 e o de 1987, tivemos os nossos próprios.
A bolsa brasileira teve o crash de 1971, que começou em junho.
Como explicamos, a exemplo de outras quebras, foi o estouro de uma bolha especulativa.
Vinha ocorrendo uma grande alta nas bolsas de valores brasileiras como um todo, principalmente nas do Rio de Janeiro e de São Paulo (a BM&F ainda não centralizava e dominava o mercado, como é hoje).
Para você ter uma ideia, havia ações que registraram altas de 400% na bolsa de valores. Ora, se uma empresa tem suas ações valorizadas em 400% é porque a saúde dessas companhias é ótima, não é mesmo? Vamos comparar o preço de uma ação com um fisiculturista bombado… ele até pode estar com uma saúde ótima e uma aparência gigantesca, mas, às vezes, o fígado não está lá aquelas coisas.
Claro que aqueles investidores menos ingênuos já haviam percebido que muitas dessas ações estavam sobre cotadas, valendo muito mais do que sugeriria o real valor das empresas.
Estava armado o crash de 1971.
A queda não foi aguda. Foi, em verdade, uma crise de liquidez. Os negócios deixaram de acontecer. Os preços foram caindo lentamente até 1973.
No início da crise, as ações do Banco do Brasil chegaram a Cr$ 55. Em 1972, estavam em Cr$ 26. Entre julho de 1971 e julho de 1972, o índice da bolsa brasileira ainda era o da Bolsa do Rio e se desvalorizou em 54,79%.
Em 1971, o mundo também estava pronto para uma de suas primeiras crises pré-globalização: a do petróleo. Delfim Neto, a quem até hoje se dá ouvidos, aproveitava a censura para dize que ia tudo bem.
Muita gente que entrava na bolsa naquela época foi pega de surpresa e por consequência demorou décadas para haver o movimento dos investidores pessoas físicas quererem dar as caras na bolsa brasileira novamente.
A partir daí, todo esse processo na economia brasileira, foi freado. Os pequenos investidores não estavam preparados na época e os processos educativos para tanto foram adiados. A bolsa de valores também não tinha um mecanismo de atuação e proteção para segurar a onda de uma desvalorização desenfreada. O pequeno investidor não estava preparado para a bolsa e a bolsa não estava preparada para o pequeno investidor: o crash de 1971 foi agravante e sintoma disso simultaneamente.
As pessoas físicas, desde então ficaram desconfiadas em relação à bolsa, sentimento piorado pelas crises do petróleo na década de 1970.
A recuperação do mercado só aconteceu na década seguinte, não sem o enfrentamento de novas dificuldades na bolsa de valores em 1980, por causa de uma bolha de crédito. Até 1983, a bolsa de valores só andou de lado.