Carboidrato.
A história dos candlesticks começa com essa palavra tão temida por aqueles mais afeitos ao fitness. Até chegarem ao ocidente, na década de 80, trazidos por Steve Nison à Bolsa de Nova York, demorou muito tempo. E a partir daí passaram a fazer parte do cotidiano dos traders e investidores, pequenos ou grandes.
A fartura de carboidrato em nossa cultura alimentar atual – visível em nossas gordurinhas a mais -, não nos deixa perceber a importância que esse macronutriente teve para as civilizações antigas. Alguém, por volta de 1500, para ser um pouco mais robusto precisava ter recursos diferenciados a fim de pagar por essas sobras adiposas que, hoje, tentamos evitar.
Fonte de energia rápida e consistente para o corpo, nem sempre foi tão fácil obter carboidrato através de pão, macarrão e outras fontes desse combustível para a vida.
Como o arroz.
Não é à toa que a economia do Japão do século 17 (1601 a 1700, pra você que é tão ruim com esse negócio de séculos quanto eu), girava em torno desse grãozinho branco.
Arroz era uma coisa realmente importante. Numa época em que não conhecíamos ainda os combustíveis fósseis, o arroz para os japoneses, era o que fazia os samurais saírem da cama para proteger os seus senhores e os demais profissionais movimentarem o resto da economia.
Todos os fazendeiros japoneses da época levavam sacas e mais sacas para serem armazenadas em Osaka. Em troca, recebiam um cupom negociável a qualquer momento. Quem comprasse esse “contrato” poderia “sacar” o arroz armazenado ou renegociá-lo na “bolsa de arroz”.
Bem parecido com os contratos e minicontratos futuros, não?
Na bolsa de arroz de Dojima tínhamos, por exemplo, 1.300 “traders”.
Nada mal para os idos de 1600, hein?
E 1.600 pessoas diretamente e outras tantas mil pessoas indiretamente pensando apenas em uma coisa – fazer negócios com arroz – acabariam, em algum momento, por fazer germinar uma ideia genial.
E ela germinou pelas mãos de Munehisa Homma.
Ele era um pioneiro e um partidário da lei do mínimo esforço: não via a necessidade de estar em Osaka para negociar. Fazia tudo de casa, em Sakata.
Não, os japoneses não tinham internet nem computadores naquela época, por mais que os consideremos um povo tecnologicamente avançado.
Mas Munehisa Homma tinha um sistema de mensageiros bem eficiente.
E de que mensagens Munehisa san precisava?
Quatro: o menor preço do período, o maior preço do período, o preço de abertura e o preço de fechamento. Apenas com isso já era capaz de tomar as melhores decisões.
Com o preço de abertura e fechamento, ele desenhava um retângulo vertical.
Com o preço máximo e o mínimo, uma linha vertical, que se estendia para além do retângulo.
Não demorou muito para ele perceber que, dependendo do formato dessas velas, das combinações entre elas, era fácil prever qual seria o próximo comportamento do preço.
E começou a tomar decisões a respeito de compra e venda dos cupons a partir desses desenhos, desses candles e candlesticks.
Usando o conhecimento que acabara de descobrir, ele conseguiu sucesso em cem negociações consecutivas (segundo a lenda) sem precisar estar sequer presente na bolsa de arroz.
A partir da metade do século 17, outros traders aprenderam o sistema de Munehisa Homma e o aperfeiçoaram ao longo dos anos seguintes.
No final do século 20, chegaram para ficar aos mercados ocidentais. Não se negocia sem se olhar o gráfico de candles atualmente.
Os candles e candlesticks são hoje, como se costuma dizer, o feijão com arroz de quem faz trades na bolsa de valores.
De fato, tudo começou com uma coisa tão banal quanto arroz.