Existem duas principais maneiras de uma empresa sair da bolsa de valores. E outras tantas para que suas ações deixem de ser negociadas, sendo uma delas a principal.
Motivos para uma empresa sair da bolsa:
- Falência: é isso a empresa deu seu último suspiro, entregou o ouro para os bandidos, capotou o jipinho, deu um abraço para o gaiteiro, ficou só a capa do Batman. Enfim, passou por um processo de recuperação judicial, não deu conta de pagar os credores e, agora, terá que vender todos os seus ativos e fazer o melhor possível com isso, deixando de existir e deixando muita gente irritada e na mão nesse processo.
- Fechamento de capital: nem sempre isso significa que a empresa está mal. Às vezes é o contrário. Ou tão somente que está reestruturando a sua estratégia. Nesse processo, ela recompra todas as ações em mãos de seus acionistas e volta a ser privada.
Motivo para uma ação deixar de ser negociada (o que não significa que ela não está listada):
- Mais de 30 pregões sendo negociada abaixo de R$ 1
O que acontece se uma empresa falir? Eu fico devendo se tiver ações dela?
Se uma empresa falir, você não vai ficar devendo não… não se preocupe.
Pelo menos não com a modalidade de ações que temos hoje em dia.
Hoje, as ações são consideradas “totalmente pagas e não-avaliáveis”. Antigamente, bem antigamente, havia uma modalidade chamada de “avaliáveis” e você poderia morrer numa grana. Mas elas nem existem mais e, portanto, não vou me aprofundar nisso.
O que vai acontecer com suas ações se a empresa falir, no entanto, é que elas passarão a valer zero e, na prática, vão sumir de sua carteira de ações.
Isso já é ruim o suficiente pois, em algum momento de sua história financeira, você pagou alguns mil reais por um certo número de ações e agora elas não valem nada.
Mas, pelo menos, você não vai ter que se resolver com os credores da companhia, mesmo tendo sido, em algum momento, considerado sócio, tendo inclusive dividido os lucros com a companhia em forma de dividendos (supondo que, em algum momento, uma empresa que faliu tenha distribuído lucros em passado recente, já que dividendos são parte do lucro de uma empresa).
Então, você pode perder o que investiu durante um longo e doloroso processo em que você vê a parte do seu dinheiro ali empenhado minguar cada vez mais. Mas devendo jamais.
Mas cuidado!
Muitas corretoras fornecem empréstimos usando a chamada conta margem. Com ela, você pode tomar dinheiro emprestado usando as ações que possui como garantia, seja para comprar ações de outra empresa, seja para comprar, sei lá, um carro ou uma geladeira ou um patinete que seja….
Se a empresa falir e você tiver dinheiro emprestado dessa forma, você receberá uma chamada de margem e a dívida precisa ser liquidada imediatamente ou a corretora irá liquidar outros investimentos seus para pagar essa chamada.
Fechamento de capital, como funciona
O fechamento de capital nem sempre quer dizer que a empresa está mal das pernas.
Ele é o processo inverso da IPO (Oferta Pública Inicial). Inclusive tem um nome parecido: OPA (Oferta Pública de Aquisição).
Isso não quer dizer que, quando uma empresa sai da bolsa dessa forma, os investidores minoritários e até uns maiorzinhos não fiquem chateados, tristes ou mesmo irritados.
O caso mais recente mais marcante foi o da Souza Cruz, empresa do setor do tabaco, que deu muita alegria a seus acionistas durante anos, mas que causou desgosto pela forma como saiu da bolsa em sua OPA, mesmo tendo movimentado quase R$ 10 bilhões. Já conto essa história.
O fato é que, todos os anos, diversas empresas fecham o seu capital na bolsa de valores. Vale a pena saber o que acontece com você quando a companhia decide por isso.
Para fechar o capital, a empresa deve contar com uma avaliação de uma outra empresa independente e com experiência comprovada na área a fim de determinar o preço justo a ser pago pelas ações dos acionistas minoritários.
Esse laudo deve levar em conta:
- O preço médio das ações nos últimos 12 meses
- O valor econômico da companhia, baseado em seu fluxo de caixa
- O valor do patrimônio líquido da companhia por ação
E, sim, o resultado da conta com esses três fatores pode revelar que o preço da ação na OPA é menor do que seu atual preço de mercado.
Imagine que você tem 10 mil ações de uma empresa cujas ações atualmente estão cotadas a R$ 50. Teoricamente, você tem R$ 500 mil.
Mas a avaliação da OPA diz que, na verdade, elas valem R$ 40. Você, na prática, já perdeu R$ 100 mil. É ou não é pra ficar pistola?
Claro, a OPA depende da aceitação dos acionistas para que o negócio seja fechado. Por isso, o ofertante, seja a própria empresa, seja uma empresa terceira que esteja adquirindo a companhia, pode oferecer um valor maior que o avaliado.
Além disso, empresas dos segmentos Novo Mercado, Nível 2 e Bovespa Mais, obrigatoriamente devem oferecer um preço superior ao valor econômico levantado nesse laudo.
Passos da Oferta Pública de Aquisição
- Publicação de fato relevante noticiando o fechamento de capital
- Depois disso, o fechamento deve ser protocolado em prazo de 30 dias na Comissão de Valores Mobiliários
- A Comissão de Valores Mobiliários decide se a autorização será concedida, em um prazo de 60 dias
- Mudanças no formato da OPA podem ser exigidos pela Comissão de Valores Mobiliários
- Com o registro em mãos, a OPA e seu edital precisam ser divulgados em grandes veículos de comunicação em um prazo de 10 dias
- Feito isso, a OPA pode ser realizada em um prazo mínimo de 30 dias e máximo de 45 dias (no edital deve constar já a data da OPA)
- Cada investidor credencia uma corretora para representá-lo até a véspera do leilão, concordando ou discordando dos termos
- Se um número de investidores que possuam, somados, 10% das ações discordarem dos valores ou de outros termos do edital, é necessária uma assembleia em que os investidores deverão apontar as falhas do relatório que determinou o preço que será pago pelas ações
- Nesse caso, o leilão será adiado e uma nova empresa será chamada para fazer a avaliação do preço da ação
Além disso, existem OPAs obrigatórias e voluntárias:
- As OPA´s obrigatórias: previstas na Lei 6404/76. Com o cancelamento de registro de companhia aberta, de aumento de participação de acionista controlador que impeça a liquidez de mercado das ações remanescentes e ainda no caso de alienação de controle acionário, a realização da OPA é obrigatória. Em termos simples, se há tão poucas ações disponíveis para negociação, as restantes precisam ser compradas dos investidores remanescentes e a empresa sai da bolsa. Por isso existe uma exigência de “free float” mínimo (número mínimo de ações em negociação) para a empresa estar listada.
- As OPA´s voluntárias: a empresa não está obrigada a realizar a OPA, mas por qualquer razão decide recomprar suas ações (ou é uma empresa terceira decide fazer isso). A lei já prevê a OPA por aquisição de controle acionário.
Só ressaltando que a obrigatoriedade ou voluntariedade só diz respeito à empresa. Já o investidor, se a OPA for acontecer ele é obrigado a vender suas ações. O único recurso é eventualmente discordar do preço. E se investidores que possuam, somados, 10% das ações discordarem, esse preço terá de ser debatido em assembleia.
Por que uma empresa realiza uma Oferta Pública de Aquisição
- Ações estão supostamente sendo negociadas muito abaixo do preço real da companhia
- Venda para uma outra companhia que pretende controlar o negócio em forma de capital fechado
- A empresa se julga consolidada a ponto de querer controlar o seu capital em sua totalidade
O caso da Souza Cruz
A Souza Cruz, famosa empresa brasileira fabricante de cigarros, entrou na bolsa em 1957 e saiu em 2015 em uma Oferta Pública de Aquisição que movimentou aproximadamente R$ 10 bilhões.
A compradora das ações foi a British American Tobacco Americas Prestação de Serviços Ltda, que pagou cada ação por R$ 27,20.
A Souza Cruz não saiu da bolsa por estar mal. Pelo contrário. Os investidores ficaram bem chateados com a retirada das ações da empresa que era vista como um porto seguro, apesar de seu produto que tanto mal causa à saúde.
Alguns gestores diziam que era o “melhor papel da bolsa”. Em 2015, teve 90% de suas ações compradas pelo British American Tobacco. A empresa chegou a distribuir em forma de dividendos 97% de seu lucro. Dizem que o negócio saiu barato para a empresa britânica e os acionistas minoritários ficaram só com a fumaça.
OPAs versus IPOs ao longo dos anos
Entre 1999 e 2019 (prazo de 21 anos) o número de OPAs superou o número de IPOs na bolsa. Quer dizer, mais empresas fecharam capital que abriram em nosso mercado nacional.
IPOs | OPAs | |
1999 | 8 | -13 |
2000 | 8 | -9 |
2001 | 5 | -4 |
2002 | 2 | -23 |
2003 | 2 | -23 |
2004 | 7 | -19 |
2005 | 9 | -17 |
2006 | 20 | -20 |
2007 | 53 | -16 |
2008 | 4 | -21 |
2009 | 5 | -17 |
2010 | 10 | -9 |
2011 | 10 | -15 |
2012 | 2 | -14 |
2013 | 9 | -10 |
2014 | 1 | -8 |
2015 | 1 | -10 |
2016 | 1 | -14 |
2017 | 9 | -9 |
2018 | 3 | -11 |
2019 | 5 | -9 |
Como você pode ver, em apenas 3 anos o número de IPOs foi superior ao número de OPAs.
Isso é um bom termômetro de como vai a temperatura do mercado numa visão macro.
De fato, 2007 foi um destaque, mostrando como estava o otimismo de nossa economia pouco antes da crise de 2008, causada pelos subprimes do mercado imobiliário americano.
Quando uma ação deixa de ser negociada na bolsa porque suas ações estão muito baratas
O último caso é quando uma ação sai da negociação por estar custando menos de R$ 1. Isso não quer dizer que a empresa faliu, embora por si só não seja um bom sinal.
Desde 2015, a bolsa de valores brasileira tem uma regra que basicamente impede que ações que sejam negociadas por mais de 24 pregões abaixo de R$ 1 sejam negociadas.
O que a empresa precisa fazer, nesse caso, é um grupamento, para evitar que seus papéis deixem de ser negociados. Caso se atinja 30 dias abaixo de R$ 1, a companhia tem seis meses para fazer o grupamento ou parará de ser negociada.
Digamos que as ações da minha empresa estejam cotadas a R$ 0,76.
O provável é que se faça um grupamento de 10 para 1 ou de 5 para 1, por exemplo.
Num grupamento de 10 para 1, para facilitar nossas contas, cada 10 ações virariam uma, esta cotada a R$ 7,60.
Se eu tivesse 1000 ações, somando um volume financeiro de R$ 760, agora eu teria apenas 100 ações, mas também somando um volume financeiro de R$ 760.
Essa medida da bolsa visa reduzir a volatilidade de uma empresa com cotação muito baixa. Quando está cotada na casa dos centavos, a variação em porcentagem do preço, mesmo sendo de 1 centavo, acaba sendo muito grande. Cotada a um preço maior, a variação em porcentagem tende a ficar menor.
Conclusão
Se você acha que uma empresa pode sair da bolsa, por ir à falência ou porque uma OPA pode estar em curso, não é um bom critério para escolhê-la para seus investimentos ou trades. Há muita fofoca, desinformação, boatos e sentimentos confusos do mercado a respeito dessas companhias.
Nós do Raio X Preditivo advogamos a análise das ações a partir do volume de ativos negociados. O volume, bem como outros conceitos, denuncia a atividade institucional (de big players) nesses e em outros ativos.
Encontrando as faixas de preço em que esses participantes fortes estão atuando – e se estão atuando na compra ou na venda – detectamos pontos de trade location, que são zonas seguras de trade, com boa assimetria de risco, aquelas em que perdemos pouco quando perdemos e ganhamos muito quando ganhamos.
O Raio X Preditivo é a metodologia que sistematiza a Nova Análise Técnica através de conceitos e ferramentas (indicadores Sato’s).
A Nova Análise Técnica considera o volume como a principal informação da bolsa. O volume é a causa dos movimentos de preço e o movimento de preço é tão somente o efeito. Se nos concentramos nas causas detectamos com mais eficiência os efeitos, antes que eles aconteçam e assim maximizamos nossa probabilidade de lucro.
E essa metodologia pode ser usada tanto para empresas que ficarão muito tempo ainda na bolsa e até em empresas que estão em vias de sair dela, embora essas últimas envolvam mais riscos devido ao nível especulativo que suas situações causam.