Sabe aquele conselho que alguém de bom senso sempre dá para você?
“Se perder a calma, pare tudo, respire, esfrie a cabeça e só então siga em frente.”
Momentos de crise aguda nunca são os melhores para se tomar uma decisão. Às vezes, o melhor mesmo é dar uma parada, observar e só então tomar as medidas necessárias.
O mesmo vale para a bolsa de valores. E o nome disso é Circuit Breaker.
Sob certas condições, a bolsa de valores simplesmente para.
O circuit breaker é uma ferramenta de segurança para deter quedas fora do normal na B3 e, grosso modo, funciona assim:
- Se a bolsa cai 10%: circuit breaker acionado e a paralisação é de 30 minutos, para todos os participantes estudarem com calma o que vão fazer a seguir.
- A bolsa cai mais 5%, totalizando 15% em relação ao pregão anterior: novamente o pregão é paralisado, desta vez por uma hora completa.
- A bolsa reabre e a queda passa a somar 20%: tudo para novamente e, agora, a B3 define quando o mercado será reaberto (nunca chegamos nessa fase).
e o circuit breaker for acionado faltando menos de 30 minutos para o fechamento do mercado, na reabertura é feita uma prorrogação de no máximo mais meia hora para os participantes definirem suas novas posições.
Vamos ver algumas das vezes em que o circuit breaker foi acionado na bolsa brasileira na ordem da mais recente para a mais antiga:
Joesley divulga as gravações implicando o presidente Temer, em 2017
Em 18 de maio de 2017, o mercado ficou apreensivo com o envolvimento do presidente Temer com a corrupção, evidenciado por uma gravação feita pelo empresário Joesley Batista.
O Índice Bovespa como um todo caiu 10%, mas algumas ações antes que o dispositivo de segurança fosse acionado tiveram quedas terríveis, caso da Cemig, que despencou 41%.
A crise do subprime nos EUA, em 2008
O dia mais agudo da crise em que os títulos que reuniam os débitos de baixa garantia do mercado imobiliário dos EUA perderam completamente o valor foi quando o banco
Lehman Brothers declarou falência: 15 de setembro daquele ano.
Porém, 2008 foi um período tão difícil que tivemos um festival de circuit breakers, em 29 de setembro e 6, 10, 15 e 22 de outubro. Em 6 de outubro, inclusive tivemos 2 circuit breakers.
Desvalorização intencional do real, em 1999
A crise russa ainda jogava sua sombra sobre todas as economias do mundo. Mas, para completar, como plano de implantação da nova moeda, foram feitas mudanças drásticas do nosso regime cambial, permitindo que o preço do dólar flutuasse de acordo com o mercado, sem o controle do Estado. Ao mesmo tempo, o mercado temia os efeitos dessa nova política cambial. O governo precisou negociar dólares no mercado futuro e o efeito disso foi desvalorizar diversas ações. O circuit breaker foi acionado nos dias 13 e 14 de janeiro.
Crise russa, em 1998
A Rússia, então, enfrentava dívida, desemprego e inflação quando, finalmente, declarou que não conseguiria dar conta de suas dívidas: declarou moratória. Não havia dinheiro nem para o funcionalismo público e militares. O desequilíbrio atingiu diversos países e o Brasil não ficou de fora. Naquele ano, o Circuit Breaker foi acionado nos dias 21 de agosto, 4, 10 (duas vezes) e 17 de setembro.
E, olha, tínhamos acabado de nos livrar do efeito da…
… Crise asiática, em 1997
Diversos países da Ásia, particularmente a Tailândia, que teve uma grande desvalorização de sua moeda, sofreram com a crise. Os primeiros a serem atingidos pela tsunami cambial foram a Coreia do Sul, Filipinas e Malásia. Até o Japão foi atingido, finalmente. A bolsa de Hong Kong teve queda expressiva em outubro, de 10,4%. Como essa bolsa é muito influente, a coisa foi se espalhando pelo resto do mundo.
O movimento foi de venda geral. Todo o mundo começou a tentar se livrar de suas ações. Com muitas vendas, a tendência é de queda.
E esse foi o momento em que o circuit breaker foi estreado no Brasil. A então Bovespa foi paralisada nos dias 27 de outubro, 7 e 12 de novembro.