“Ações Comuns, Lucros Extraordinários”, o livro de Philip Fisher que deu um passo a mais no Value Investing e o que ele tem a ver com nosso modo de ver o mercado
O livro “Ações Comuns, Lucros Extraordinários”, de 1958, de Philip Fisher deu um passo a mais no Value Investing, de Bem Graham, do qual ele era discípulo. Fisher mostrou em seu livro que poderíamos olhar para algo a mais além somente dos números de uma empresa. Isso mesmo. Se você é desses que ficam ansiosos esperando a divulgação trimestral dos resultados das companhias, está olhando apenas para uma parte da fotografia que talvez nem seja a mais importante.
De fato, se você acompanha gestores de fundos importantes no Twitter e outras mídias sociais – vou citar Henrique Bredda, do Alaska Black, só para ficar em um exemplo, por ser particularmente ativo – vai ver a importância que eles dão a fatores qualitativos, por vezes mais do que aos quantitativos:
- Quem são os comandantes das empresas
- Como são as relações com os empregados
- Como o negócio vem se desenvolvendo em termos estratégicos
- Como os executivos estão se comportando
- Transparência no tratamento dos acionistas
- Integridade da gestão
- Processos de controle da companhia
- Vantagens competitivas do negócio
Claro que esses gestores de fundos da atualidade também olham para os números. E de uma forma mais complexa do que iniciantes na bolsa de valores conseguiriam. Mas, muitas vezes, os números, frios, não explicam o sucesso e o fracasso potenciais e futuros de uma empresa. Tem muito mais história por trás de tudo.
Em seu livro “Ações Comuns, Lucros Extraordinários”, Fisher ajudou a criar bases mais sólidas para aqueles que tivessem a leitura e o entendimento de um contexto complexo de empresas que poderiam valorizar ao longo não só de anos, mas de décadas. Colocar R$ 10 mil em uma empresa assim hoje pode significar ter R$ 1 milhão daqui a 10 anos.
Porém, dificilmente teremos as mesmas leituras de um gestor de um grande fundo e, raramente, conseguimos acompanhar os movimentos e as montagens de posições desses participantes. No entanto, conseguimos acompanhar essas atuações através da leitura do Raio X Preditivo. E, sobre isso, quero explicar para você mais adiante.
Antes, vamos dar uma olhada nas outras lições ensinadas por Fisher em seu livro “Ações Comuns, Lucros Extraordinários”.
Diversificação demais não é uma boa ideia
Iniciantes e experientes já ouviram a famosa máxima que diz que não devemos colocar todos os ovos em uma cesta só.
De fato, por aqui, sempre advogamos a ideia de que devemos posicionar apenas uma parte de nosso dinheiro na renda variável, sobretudo no começo de nossas incursões na bolsa de valores.
Porém, para Fisher, colocar o dinheiro destinado a bolsa distribuído em muitas ações não dá resultados. A diversificação não deve ser exagerada.
Por dois motivos: colocar dinheiro em demasiadas ações é ruim porque poucas delas terão potencial realmente grande de ter boas valorizações e, por outro lado, a chance de não se conhecer bem os negócios de diversas delas também é aumentada.
Para Fisher é muito melhor diversificar pouco e conhecer bem as poucas empresas em que se investiu que diversificar muito e não saber nada sobre essas diversas companhias. Aliás, a segunda opção, para ele, é perigosa.
A diversificação deve estar condicionada pelo número de empresas que se consegue conhecer com profundidade e que o investidor consegue acompanhar.
A diversificação também deve considerar diferentes setores. Não adianta ter 5 ações e todas elas serem do setor de energia. Se acontecer algo a esse setor, todas elas vão despencar.
Em seu livro “Ações Comuns, Lucros Extraordinários”, Fisher ainda fala para fazer uma divisão da seguinte maneira:
- 20% – Empresas já consolidadas com maior qualidade de resultados.
- 10% – Negócios mais jovens ou que dependem mais das vendas.
- 5% – Empresas que são literalmente apostas (considerando que há alguma chance de que seja uma boa aposta).
O risco, nesse caso, vem do negócio da empresa e não da maneira como acompanhamos o sobe e desce de seus ativos na bolsa. Uma empresa segura, para Fisher, pode ter uma volatilidade alta, por exemplo. Ele não se abalaria com quedas bruscas se acreditasse no negócio.
Notícias e os preços distraem
Você já sabe que, por aqui, a gente não dá muita bola para notícias. Por motivos diferentes dos que levavam Fisher a não as acolher como informações seguras, mas o comportamento é o mesmo.
A manada adora notícias é influenciada por fatos que não tem a menor importância.
Além disso, os investidores dessa classe menos instruída acabam dando importância demais aos preços máximos e mínimos de uma ação, o que acaba fazendo com que eles “rotulem” o mercado.
O preço imediato é influenciado por fatores que, nesta perspectiva, pouco têm a ver com o real valor da companhia.
Para Fisher, assim como nós (embora com objetivos e conclusões diferentes) o preço é mero efeito, não tem muita importância: ele é causado pelo fluxo, pelo volume de negócios. O preço de hoje, segundo Fisher, pouco tem a ver com o preço do passado.
Não dá para tentar achar a nova Magazine Luiza, que pode multiplicar seu dinheiro milhares de vezes, apenas se baseando no preço atual das ações ou se baseando no preço passado.
O mesmo se dá com olhar os lucros e prejuízos que estão em anos anteriores: o passado nunca se repete, ainda mais na bolsa. O que o investidor de Fisher, que se baseia em “Ações Comuns, Lucros Extraordinários”, deve fazer é tentar prever o lucro futuro.
E esse tipo de análise é BEM difícil. É muito fácil cair em uma inútil futurologia se não se tiver acesso a informações e conhecimentos adequados.
Cuidado com a manada
Essa dica do livro “Ações Comuns, Lucros Extraordinários” é básica, das mais básicas. Mas uma das mais difíceis de fugir.
Fisher alerta que quem decidiu seguir seus preceitos deve se apegar aos fundamentos e ao que aprendeu sobre a empresa e não se assustar com a precificação de uma companhia pelo mercado, que pode ser bem diferente do que ela realmente vale.
Deve ter surgido o nome de algumas empresas, na sua cabeça, que tiveram expressivas valorizações recentes por estarem na moda. Até na bolsa as “modinhas” estão presentes.
Mas comprar ações por modinha pode ser bem pior do que aquela calça saruel que você só usou uma vez (para sua vergonha).
E, quando essas modas surgem, a manada sai comprando, os preços vão subindo até que a empresa, sem fundamentos quantitativos e, principalmente, para Fisher, qualitativos, mostra o seu verdadeiro e irrisório valor. Não se sustenta.
Olhe na direção contrária da manada e, possivelmente, você terá mais sorte.
E o Raio X Preditivo com isso?
Assim como Fisher, nós do Raio X Preditivo sabemos que o preço é mera consequência de outros fatores.
Nós sabemos que o preço é mero efeito de uma causa anterior e essa causa é o volume e o fluxo de negócios.
Por um lado, não vemos a bolsa de valores como um ambiente em que precisemos nos expor ao risco durante tanto tempo.
Por outro, sabemos que o investidor e o trader de varejo não tem acesso às informações necessárias a um diagnóstico preciso a respeito das empresas em que deseja investir, diferentemente de um gestor de um grande fundo.
Porém, temos acesso às informações a respeito do volume. Através das ferramentas e conceitos corretos temos acesso ao que esses grandes fundos e, sobretudo, os investidores institucionais estão fazendo nos diversos ativos negociados na bolsa de valores.
E não só no longuíssimo prazo: também no médio, no curto e no curtíssimo prazo.
Desnecessário dizer que, tendo a oportunidade de acompanhar o que esses poucos participantes de alto cacife estão fazendo, acabamos por nos distanciar da manada e ficando lado a lado com aqueles com maior chance de levar o mercado ou uma ação isoladamente para o lado que preferirem.
Embora não sejamos partidários da bolsa como “investimento”, podemos usar o posicionamento desses players a nosso favor, pois ao se movimentarem, montando ou desmontando posições, eles causam marolas ou mesmo tsunamis no mar do mercado.