A pergunta que muitos brasileiros querem saber é: ainda vale a pena investimentos de renda fixa?
Os juros básicos da economia estão cada vez menores. De um lado, é uma forma de o governo incentivar as companhias em fazerem investimentos: o dinheiro fica mais “barato” e o custo de tomar empréstimos, financiamentos ou lançar debêntures e usar os recursos para construir, pesquisar, adquirir ficam mais em conta.
Por outro lado, quem contava com a renda fixa para fazer o dinheiro crescer – aos poucos, mas com segurança – está cada vez mais decepcionado. Juros cada vez menores são uma tendência mundial. Estaríamos indo para um caminho de juros negativos, a exemplo de outros países europeu, como Suécia, Suíça e Dinamarca? Na Ásia, o exemplo mais marcante é o Japão.
O plano por trás disso é incentivar o consumo: se eu vou guardar o dinheiro e, no fim, ter menos dinheiro do que no início, porque eu vou guardar? E, com mais consumo, é outra forma de incentivar o crescimento da economia, com mais indústrias fazendo produtos, mais comércio vendendo-os e mais serviços também. Claro, isso não tira a perspectiva daqueles que preferem a garantia de que seu dinheiro, mesmo “diminuindo”, terá uma proteção frente ao desenrolar dos anos.
Então, a renda fixa está com os dias contados?
Bem, aqui no Brasil, temos a nossa taxa básica de juros a Selic, em 2% ao ano. Isso quer dizer que um investimento que renda 100% da Selic renderá 2% ao ano. Se você investir R$ 100.000 ao fim de um ano terá R$ 102.000. Isso mesmo. Apenas R$ 2 mil sobre R$ 100.000.
Nunca a Selic esteve tão baixa.
Considere que a maior parte dos investimentos de renda fixa, sobretudo os pós-fixados, são indexados pela Selic. Mesmo um CDB que pagasse 150% do CDI, sempre muito próximo da Selic, pagaria no máximo R$ 3 mil (ainda não descontamos o imposto de renda, que segue a tabela regressiva). A Poupança, coitada, paga 70% da Selic: mal dá para ganhar da inflação.
Outros investimentos prefixados e mistos (IPCA+juros) também pagam taxas cada vez menores. Uma clara opção de vantagem é apostar na continuidade da queda dos juros e ficar com esses: por exemplo, numa perspectiva de queda, um título do tesouro prefixado ou misto pode ter um pico de valor e podemos vendê-lo antes do vencimento… e, uma vez vendido, colocar esse dinheiro onde? Em outra forma de renda fixa, segura, mas com juros ainda menores?
Não é à toa que cada vez mais pessoas estão indo para formas de investimento mais arriscadas, como as ações, os fundos de ações, fundos multimercados, moedas, metais (como ouro), fundos imobiliários (uma espécie de ação de imóveis ou grupos de imóveis).
Porém, essas formas de investimentos têm riscos. E os riscos sempre precisam ser dosados. Uma hora o dinheiro que você colocou em uma carteira de ações cresce. Outra hora vem uma crise, como a que acabamos de testemunhar e tudo despenca, passa a valer a metade. Pouca gente tem condições de suportar esse sobe e desce, mesmo com todos os discursos de que, no longo prazo, as ações sempre valorizam (a prática mostra que isso não vale para todas as ações).
Então, numa situação dessas, a renda fixa, mesmo que com juros negativos sempre será uma opção para proteger parte do capital conseguido na renda variável. A questão é saber quanto desse capital deve ser protegido e isso varia de perfil para perfil de investidor.
Dessa conversa toda só podemos concluir uma coisa.
O investidor em renda fixa puro está com os dias contados. Cada vez menos veremos pessoas só com dinheiro em CDB, LCI, Debêntures (incentivadas ou não), LCA, LC, CRI, CRA e outros.
Devo dizer que dá uma certa inveja de quem colocou um bom dinheiro em algum CDB prefixado que pagava 13% ao ano ou nessa faixa, desde que você estivesse disposto a deixá-lo lá por 6 ou 7 anos. Até meados de 2018 ainda era possível encontrar opções assim.
E, cada vez mais veremos, pessoas se aventurando na renda variável. O mercado deve se autorregular, supostamente, apresentando, aos poucos, opções de empresas mais seguras, boas pagadoras de dividendos e com um crescimento relativamente constante, se a ideia de juros baixos for realmente eficiente. A lógica de as companhias terem mais condições de investir e de o consumo ser incentivado faz sentido, afinal de contas: sempre haverá uma maioria que prefere nem investir e sim gastar. Para muitos, guardar dinheiro nem é uma opção.
No entanto, essa migração será gradual. Como acabei de dizer, a mudança de renda fixa para renda variável será gradual. Durante muito tempo a renda fixa continuará como porto seguro para parte das economias de muitos brasileiros. E mesmo com apenas 2% ao ano, isso ainda é melhor que 1% ou 0% ou -1%. Mas, sem dúvida, que já está mais do que na hora que você esteja se colocando a par das opções de renda variável para colocar pelo menos 10% de seu capital nela e aumentando à medida que se sente seguro.