O Lobo de Wall Street, de Martin Scorcese, é a cinebiografia de um dos maiores pilantras que já existiu: Jordan Belford.
Ele mesmo admitiu que não se arrepende do prejuízo que causou às pessoas que acreditaram nele antes de ser condenado.
E, hoje, depois de ter pago as dívidas para com a justiça, continua como investidor e palestrante motivacional, ganhando dinheiro em cima da fama que criou e, obviamente, em cima do talento que naturalmente tem (vamos supor que, atualmente, de forma honesta).
A grande verdade é que o filme, além de ser muito bom, e se passar num ambiente em que são negociadas ações, particularmente penny stocks (ações de baixo valor), não se trata de um filme sobre bolsa de valores.
É um filme sobre vendas e pilantragem.
Mas considerando esse contexto, podemos tirar algumas conclusões que podem nos orientar na bolsa de valores, visto que há muitas coisas sobre os mercados que foram deixadas de lado para privilegiar as maluquices aprontadas por Belford.
1. A bolsa de valores tem sim gente honesta, mas isso não quer dizer que elas são boazinhas
A honestidade na bolsa de valores certamente é fruto de uma forte regulação e fiscalização. A própria bolsa, no Brasil, a B3 (Brasil, Bolsa, Balcão), tem meios de impor que tudo corra nos conformes. Ainda há a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) que cuida para que ninguém saia da linha. E também, queremos crer, que de um modo geral, as pessoas preferem trabalhar honestamente por suas próprias convicções éticas pessoais.
Porém, isso não quer dizer que, quando você, iniciante e inocente, coloca seus tostões na bolsa de valores, seja num investimento de longo prazo ou em operações de curtíssimo prazo, como o day trade, será tratado como um jogador “café com leite”.
Pra começo de história, ninguém liga se, por descuido você comprar opções achando que são ações, e elas virarem pó no vencimento: você perdeu seu dinheiro, simples assim. Ninguém vai passar a mão na sua cabeça dizendo “coitadinho, você não sabia…” (e acredite: tem muita gente que compra opções achando que são ações só porque são baratinhas).
2. Na verdade, os big players nem sabem que você existe
A corretora do Jordan Belford era especializada em “empurrar” penny stocks (ações de baixo valor) para seus clientes com a promessa de valorização e de um investimento seguro e bem remunerado. Ao menos eles sabiam que seus clientes existiam. Inclusive ele teve que encarar essas pessoas no tribunal.
Os big players, aqueles que movimentam realmente os preços na bolsa de valores através da busca de níveis de alta liquidez de ativos, por outro lado, nem sabem que você existe, não fazem questão se saber e não estão nem aí para quem sabe. E eles brigam entre si. Qualquer pessoa que seja prejudicada por estar no meio dessa batalha de titãs é mero dano colateral.
Quando se fala em bilhões de dólares, não importa que alguém perdeu o dinheiro que usaria para pagar a casa ou a faculdade dos filhos. Então, se isso acontecer com você, não adianta tentar ficar procurando culpados. O culpado provavelmente é você. Não diga que eu não avisei.
3. Nem sempre atividades ilícitas são punidas
Sim, há regulação, há fiscalização, há pessoas honestas.
Mas na prática, se usarmos as ferramentas corretas vemos atividades proibidas acontecendo na nossa cara.
Com as ferramentas do Raio X Preditivo, os indicadores Sato’s, é possível detectar uma das mais comuns: o spoofing.
O spoofing se trata de um tipo de blefe através do posicionamento de grandes ordens de compra ou venda e seu reposicionamento tão logo o preço vá na direção desejada.
Ou seja, através de ordens que não serão executadas de jeito nenhum, acontece uma manipulação do preço de uma ação. Aliás, isso acontece com qualquer ação que tenha negócios e liquidez suficientes que permitam essa prática.
É uma prática, como eu disse, proibida, mas, aparentemente, a CVM e a bolsa não têm a capacitação técnica e as ferramentas adequadas para coibi-la ainda.
Então, se você quer entrar na bolsa de valores precisa saber que, na verdade, não é um ambiente lá tão seguro como se imagina, a não ser que você saiba o que está acontecendo: é como visitar aquela vizinhança menos segura da cidade. Se você sabe onde está se metendo, conhece os becos, as pessoas e como elas agem, está relativamente seguro. Mas se vai lá inocentemente, o mais provável é que te depenem.