A gente não deve operar por notícias.
Por três motivos principais.
O primeiro deles é que, geralmente, quando chega ao público as notícias já foram precificadas na bolsa.
O raciocínio é simples: quem você acha que é mais bem informado? O estagiário que aperta o botão “publicar” no site de notícias ou o administrador de um grande hedge fund?
Isso mesmo. Quando a notícia chega, eles já venderam ou já compraram. Talvez um dia antes. Talvez já vinham fazendo operações baseados nas informações que tinham há meses.
Embora operar com informações privilegiadas seja proibido, sempre haverá privilégio em algum nível.
O segundo motivo é que, mesmo que seja uma notícia de última hora, não sabemos exatamente para que lado a volatilidade vai pender: para uns a notícia é boa, para outros é ruim, por mais trágica ou positiva ela nos possa parecer.
O terceiro motivo é que não sabemos o tamanho da volatilidade que a notícia irá causar: assim fica difícil quantificar quanto podemos ganhar e quanto podemos perder em uma operação.
Resumindo: nunca opere notícias. Leia notícias para se informar. Mas, vou dizer, tem muito trader de sucesso que nem sabem o que é jornal e se você perguntar quem é o William Bonner ele dirá que não faz ideia.
Ainda assim, temos diversos exemplos de notícias e até mesmo tweets que derrubaram ações.
Eis alguns deles:
- Elon Musk fumando maconha: no dia 7 de setembro de 2018, o presidente da Tesla apareceu fumando maconha em um podcast. As ações de sua empresa chegaram a cair 14% no mesmo dia.
- Elon Musk diz que o salvador das crianças da caverna é pedófilo: novamente ele. O presidente da Tesla acusa infundadamente o mergulhador que ajudou a salvar as crianças na caverna tailandesa de pedófilo. As ações caíram 3,5% e o valor de mercado da empresa, com isso, perdeu US$ 2 bilhões num único tweet.
- Queda de lucros do Facebook: as ações da empresa de Mark Zuckerberg caíram nada mais nada menos que 20% em 26 de julho quando os lucros anunciados foram menores do que o esperado e as expectativa de crescimento para os próximos anos foi reduzida. Isso representa uma perda de US$ 100 bilhões em valor de mercado.
- Vazamento de dados do Facebook: The New York Times publicou uma matéria sobre como a Cambridge Analytica conseguiu acesso aos dados de 50 milhões de usuários da rede social sem pedir permissão. Resultado? Queda de 4% em um único dia.
- Operação Carne Fraca: a Polícia Federal deflagrou a Operação Carne Fraca em março deste ano. Na segunda-feira após o início das operações, as ações da JBS caíram 20% com as investigações sobre a segurança da carne produzida no Brasil, o maior exportador mundial do produto. Marfrig Global Foods e Minerva caíram 4% cada uma.
- Escândalo nas estradas: as ações da Triunfo, concorrente da CCR, caíram em um terço de seu valor (mais de 30%) no dia 22 de fevereiro depois de ser citada em um depoimento da Lava Jato a respeito de irregularidades na execução de um acordo da concessão rodoviária feita pela subsidiária Econorte.
- Trump derruba fornecedores da Apple: nem a hoje trilionária Apple e seu fornecedores deram conta da boca grande do líder supremo dos Estados Unidos da América. Ele tweetou que a empresa deveria fabricar seus produtos nos EUA se quisesse sobreviver a uma possível tarifação à produção chinesa. Uma dezena de empresas que trabalham com a Apple teve quedas entre 3% e 10% cada.
- Duas explosões na Casa Branca, Barack Obama ferido: este foi o tweet da agência de notícias AP enviado por robôs. Era mentira. O que não impediu de, naquele momento, todas as bolsas abertas naquele momento entrarem em queda livre. O Dow Jones caiu 1% e a bolsa brasileira 0,5% e, repito, em míseros 180 segundos. Felizmente, rapidamente descobriu-se que se tratava de uma notícia falsa.
- O site Engadget publicou em 2007 uma notícia de que o iPhone, novidade de então, da Apple, teria seu lançamento adiado em meses: foi suficiente para que as ações da maçã caíssem quase 4%. No fim, o site, de imensa credibilidade, tinha baseado sua notícia em uma fonte que imaginou que fosse uma oficial da Apple. Não era. O iPhone foi lançado pontualmente.
- Falência da United Airlines: em 8 de setembro de 2008 começou a correr uma notícia de que a empresa de aviação comercial pediria falência. Anote aí: as ações caíram 99,9% de uma vez tão logo o mercado abriu. A bolsa teve que paralisar os negócios em Nova York. No fim, naquele dia, as coisas acabaram de ajeitando bem como ao longo do tempo. Todo o problema nasceu por causa de um jornal da Flórida que republicou uma matéria de 2002 de outro jornal de Chicago, imaginando que a informação fosse atual. Sempre confiram as datas das matérias amiguinhos!