A margem de garantia é um trunfo que você tem na manga para lucrar muito tendo pouco dinheiro na conta, mas cuidado para não entrar numa enrascada
Margem de garantia, na prática e de uma maneira bem simplificada, é o dinheiro que você precisa ter na conta ou em investimentos específicos para poder operar volumes de ativos na bolsa de valores maiores do que permitiria o total de seu dinheiro, sobretudo em day trade (operações que começam e terminam no mesmo dia), mas também em outras operações. Por exemplo, digamos que você tenha apenas R$ 100 disponíveis na sua conta. Mesmo com esse valor, graças à margem de garantia você poderá comprar um minicontrato de dólar, que vale US$ 10 mil, desde que sua intenção seja vendê-lo no mesmo pregão. Se você não está habituado a isso, parece maluquice, mas não é e é bem comum e usual esse tipo de operação.
Margem de garantia, a ideia dela é que você tenha na conta pelo menos o valor de qualquer prejuízo que você possa a vir a ter em uma operação. Digamos que você opera na um ativo na compra. Tem R$ 100 na conta. A expectativa é que seu prejuízo não seja maior que isso caso o ativo que você comprou desvalorize. Geralmente, a margem de garantia que as corretoras pedem, sobretudo no day trade (operações que começam e terminam no mesmo pregão), é muito baixo. Como se trata de uma operação mais comum e aquela em que as pessoas mais têm curiosidade sobre o tema, vamos enfocar sobretudo no que diz respeito ao day trade de fato.
Neste artigo, vamos destrinchar todos os detalhes da margem de garantia pra você.
- O que é a Margem de Garantia
- Como funciona a margem de garantia? (porque as corretora cobram)
- Perigos de se ter uma margem de garantia baixa
- Margem de Garantia no Day Trade
- Margem de Garantia ao operar ações
- Margem e Garantia ao operar minicontratos
- Alavancagem e Margem de Garantia
- Conclusão sobre a Margem de Garantia
1. O QUE É A MARGEM DE GARANTIA
Como você deve saber, o valor dos ativos na bolsa de valores é relativamente alto. E, para operar no day trade, como as variações são muito pequenas (relativamente a tempos operacionais mais longos), é esperado que se opere valores altos a fim de que o risco valha a pena.
Por exemplo, um minicontrato de dólar vale US$ 10 mil. Um minicontrato de índice vale aproximadamente um quinto dos pontos do Ibovespa em reais (por exemplo, se o Ibovespa está em 100 mil pontos, o mini vale R$ 20 mil mais ou menos).
Você tem US$ 10 mil para arriscar ou mesmo R$ 20 mil? Mesmo que tivesse, geralmente investidores mais prudentes vão preferir deixar esses recursos em ativos mais seguros e de longo prazo, dos mais aos menos arriscados: renda fixa (CDB e outros), fundos de renda fixa, fundos multimercado, fundos de ações, Tesouro Direto ou mesmo uma carteira de ações de mais longo prazo.
Mas com a margem de garantia você não precisa dispender todo esse valor para fazer day trade. Um pequeno valor líquido de sua conta na corretora já serve para operar. E mais: os valores que você tem investido em algumas das opções acima já contam como margem de garantia.
Mas digamos que você não tenha nenhum investimento. Apenas R$ 50 em sua conta. Pois saiba que isso já é suficiente para comprar (ou vender, caso você opere na venda), para comprar um minicontrato de dólar ou um minicontrato de índice, que vale muito, mas muito mais que isso. Possivelmente até mais de um.
2. COMO FUNCIONA A MARGEM DE GARANTIA?
A ideia da margem de garantia não é ser uma cobrança da corretora. Esse dinheiro não deixa de ser seu a não ser que você tenha um prejuízo em suas operações de day trade ou em outros tempos operacionais. Não encare como uma cobrança ou você vai acabar escolhendo sua corretora pelo valor menor da margem de garantia o que, como veremos adiante, é uma bobagem.
A margem de garantia tem um nome que deixa bem claro para o que ela serve. Ela serve para garantir que você terá dinheiro suficiente para pagar qualquer eventual prejuízo que venha a sofrer em suas operações.
Digamos que você tenha R$ 50 em sua conta. Você compra um minicontrato de dólar que, como vimos, vale US$ 10 mil, quando a cotação é 5.000 pontos, acreditando que vai subir.
Por motivos que não vou explicar agora, cada ponto no minidólar vale R$ 10. Contrariando sua expectativa, o minidólar cai 5 pontos. O sistema da corretora imediatamente fecha sua operação, pois você atingiu o limite de sua margem de garantia.
Digamos que, nesse exemplo, em que você tem R$ 50 líquidos, você também tivesse investimentos elegíveis para margem de garantia e deixou o minidólar cair 10 pontos contra a sua posição, equivalendo a R$ 100. Nesse caso, você tinha mais margem, mas, se teve prejuízo, ficará com a conta no negativo. Valores mais vultosos podem fazer com que a própria corretora liquide outras posições para pagar essa diferença.
Se você decidir levar essa posição para o dia seguinte, ela deixa de ser day trade e as corretoras costumam pedir valores maiores de margem. Ou seja, você tem que ter mais dinheiro ou investimentos suficientes para garantir a operação ou ela é encerrada.
3. PERIGOS DE SE TER UMA MARGEM DE GARANTIA BAIXA
Quando um trader iniciante vê uma margem de garantia baixa em uma corretora pode imaginar que isso é uma vantagem, mas isso é um grande engano. O valor da margem de garantia deve ser considerado irrelevante para o trader. Vou dar um exemplo:
A margem de certa corretora para operar minicontratos em geral é de R$ 20. O trader iniciante, então, deposita R$ 2 mil reais.
Esse valor, considerando-se a margem de garantia, permite que ele opere 100 minicontratos de cada vez (já que a margem é de R$ 20), o que ele faz prontamente, operando na compra, esperando que o preço suba.
Acontece que o preço, na verdade, cai 2 pontos. Cada ponto vale R$ 10. Logo, ele perde R$ 20 por minicontrato operado.
Portanto, como ele estava operando 100 minicontratos ele perde os R$ 2000 que havia depositado de uma vez só. Isso sem falar nas taxas de corretagem e outras.
Só por esse exemplo simples já dá pra ver que o tamanho da margem só serve para proteger a corretora.
4. MARGEM DE GARANTIA NO DAY TRADE
Como vimos alguns parágrafos atrás, a margem de garantia em operações de day trade é bem reduzido. Por que isso acontece?
É certo que se opera valores grandes no day trade a fim de que as mínimas variações que ocorrem em poucos segundos ou minutos em um mesmo pregão consigam nos dar lucros superiores. O que acontece é que, durante o dia, o sobe e desce dos preços não vai dar grandes saltos, tornando o controle do risco mais simples tanto para o trader quanto para a corretora (que fechará qualquer operação que ultrapasse a margem disponível do investidor).
Porém, compras e vendas em períodos maiores possuem um risco superior. São bem comuns, por exemplo, pregões que já iniciam com 2% de baixa. Às vezes até mais.
Aquele trader que segurou a operação para o pregão do próximo dia pode ser um risco para a corretora se ele não tiver fundos para cobrir uma variação dessas contra sua posição. Já houve casos da bolsa abrir com 10% de queda!
Os traders que estiverem com operações em aberto no final do pregão, terão que ter um valor maior de garantias. A ideia da corretora é se proteger contra essa possível queda. Assim, para operações que não são de day trade é necessário ter mais fundos para cobrir a margem de garantia.
5. MARGEM DE GARANTIA AO OPERAR AÇÕES
A margem de garantia também é pedida em ações, não só em contratos e minicontratos de dólar e índice. Cada ativo que você operar terá uma margem de garantia diferente. Isso varia de corretora para corretora também. Geralmente, a margem pedida para ações é maior que a margem de garantia pedida em contratos e minicontratos, mas, como sempre, você poderá operar em day trade com ações tendo um valor muito menor em conta do que o valor dos próprios ativos operados.
6. MARGEM DE GARANTIA AO OPERAR MINICONTRATOS
A margem de garantia precisa ser pensada levando em conta não aquilo que a corretora “gentilmente” lhe oferece. Sempre leve em conta o valor que está em risco em uma única operação. Esse valor máximo de perda precisa ser monitorado através de uma ferramenta conhecida como “stop loss”. Trata-se de um nível de preço que você escolhe. Tão logo esse nível é atingido o trade acaba automaticamente. Essa área do preço não é aleatória ou meramente financeira. Ela é escolhida seguindo a estratégia ou a metodologia que se está utilizando. Precisa estar em um ponto que, uma vez violado, é forte indicador que a expectativa de alta ou de queda do preço não se comprovou.
Quer dizer, mesmo que a corretora lhe dê uma margem de garantia de R$ 20 por ativo e os seus R$ 2000 possibilitam a operação de compra com 100 minicontratos, não faça isso.
O que você fai fazer é levar em conta o valor que você está disposto a ter de prejuízo em cada operação.
Desse modo, por exemplo, se você perder 2 pontos com 2 minicontratos, isso quer dizer que você teve um prejuízo de R$ 40 ou 2% do total de seu capital. Se isso é muito ou pouco, depende de cada um ou do quanto cada um tem disponível ou de apetite para o risco. O fato é: não use tudo o que a corretora lhe oferece em termos de margem de garantia.
A margem de garantia é como o acelerador de um carro muito potente. Você pode chegar a 300 quilômetros por hora. Mas a bolsa de valores é como uma estrada repleta de curvas e perigos, maus motoristas, buracos, poças de óleo, gelo, obstáculos. Você pode acelerar, se quiser… mas a 300 por hora o risco é muito maior. O mais correto é ir devagar e, ainda assim, você terá que ser muito bom para não sofrer um arranhãozinho sequer.
7. ALAVANCAGEM E MARGEM DE GARANTIA
Alavancagem, na linguagem dos negócios, é de maneira bem simples tomar algo emprestado para multiplicar a possibilidade de ganho, como um empresário que toma dinheiro do banco – com a promessa de juros é claro e a presença de (margens de) garantias, como imóveis, ações, empresas e tudo o mais.
Ao usarmos a margem de garantia, a corretora, na prática, está emprestando ativos de milhares de reais, sob a promessa que você os devolva naquele dia – ou quanto durar a operação – desde que você tenha as garantias: o dinheiro que constitui a sua margem de garantia, no caso.
Mas por que chamamos isso de alavancagem?
Veja só:
Digamos que o mini dólar esteja em 5 mil pontos. Você tem R$ 20 em sua conta. Pela margem pedida, que é justamente de R$ 20, você pode comprar 1 mini dólar. Nesse caso, você tem a expectativa de que a cotação suba.
A cotação subiu de 5000 pontos para 5010. E, assim, você ganhou R$ 100.
Veja: a cotação em si 0.2%.
Mas o seu ganho foi de R$ 20 na conta para R$ 120. Um ganho de 500%. O ativo variou 0,2% e você ganhou 500%. Isso é uma alavancagem de 2500 vezes. Isso quer dizer que você pode ganhar 2500 vezes sobre a variação do ativo.
Claro que isso é atraente e muita gente cai nessa armadilha, se alavancando até o talo.
Porém, se os lucros são alavancados, os prejuízos também são. Por isso, cuidado. Da mesma forma que subiu 10 pontos, poderia ter caído 2 pontos, para 4998. Uma queda de 0,04% faria perder todos os seus R$ 20.
O valor que usei como exemplo é pequeno, mas tem gente que perde muito mais por causa de sua cobiça.
8. CONCLUSÃO SOBRE A MARGEM DE GARANTIA
Como vimos, a margem de garantia nos dá a possibilidade de nos alavancarmos no sentido de ganhar mais dinheiro do que nos permitiriam os nossos recursos. Porém, a margem de garantia alavanca também o prejuízo com a mesma potência. A principal lição deste artigo é não se alavancar tanto quanto a corretora de valores permite, buscando seguir um gerenciamento de risco de acordo com a sua capacidade e seu apetite pelo risco.