Todo o mundo diz que os títulos públicos, nos quais o grande público investe através do Tesouro Direto, por intermédio de um banco ou uma corretora de valores, são super-seguros e que você não perde dinheiro de jeito nenhum.
Isso é uma meia verdade.
Se você não souber o que você está fazendo, você perde dinheiro sim!
Como em tudo na vida, você precisa saber onde está se metendo para não correr riscos e, se correr, corrê-los de forma planejada, cuidadosa e calculada.
Então, brevemente, vamos explicar o que são os títulos públicos de forma resumida.
O que são títulos públicos?
Ao comprar títulos públicos você está emprestando dinheiro ao governo. Ele usa esse dinheiro para obras de infraestrutura e outras necessidades nacionais, por exemplo.
Espera aí… emprestar dinheiro ao governo… isso não é perigoso?
Pelo contrário, em tese, é o investimento mais seguro que existe.
Pois saiba que qualquer investimento que você faça é um empréstimo. CDB é um dinheiro que você empresta aos bancos. Também o LCI, o LCA e até a poupança e mesmo a sua conta corrente. Toda essa grana que você deixa nos bancos eles usam para suas próprias movimentações e concessões de crédito a terceiros com juros muito maiores do que eles pagam pra você. Existem também outros investimentos (debêntures, LCs e outros) em que você faz a outras entidades privadas, como empresas não financeiras.
Qual a diferença de emprestar dinheiro a um banco e ao governo. Por que emprestar dinheiro ao governo é menos arriscado que a um banco?
Bem, pra começo de conversa, emprestar ao Tesouro Nacional é emprestar ao único devedor do País que pode “imprimir” dinheiro para pagar você. Claro, se for necessário “imprimir” dinheiro teremos outros problemas num nível macroeconômico que nem vou detalhar aqui, mas que o Tesouro Nacional paga, ele paga.
Também uso “imprimir” entre aspas porque, hoje em dia, a “impressão” de dinheiro está mais ligada à política de juros, redução de depósitos compulsórios pelo governo e compra de títulos pelo próprio Banco Central do que pela impressão propriamente dita.
Então, emprestar dinheiro ao governo, nesse sentido, é seguro sim. Se o Tesouro Nacional não pagar sua dívida pode ter certeza que coisas muito piores estarão acontecendo em nossa economia.
E por que eu posso perder dinheiro com os títulos públicos?
Para entender isso, você precisa entender que temos três tipos diferentes de títulos públicos de acordo com a sua remuneração:
- Título pós-fixado: Tesouro Selic, que é indexado de acordo com a taxa básica de juros ajustada periodicamente pelo Banco Central
- Título prefixado: Tesouro Prefixado, que paga uma taxa fixa de juros anuais no vencimento
- Título misto: Tesouro IPCA+, que paga a inflação medida pelo IPCA mais uma taxa de juros fixa no vencimento
Agora, vamos ver por que você pode ou não perder dinheiro com alguns desses títulos
- Tesouro Selic: com este, você não perde dinheiro em nenhuma hipótese, pois ele acompanha a taxa Selic não importa qual seja ela. Digamos que você tenha comprado uma fração de um título (dá para comprar até 1% de um título), um título inteiro ou mais de um. Na época, a Selic está em 2%. Ele vai pagar isso: 2% ao ano, mais uma pequena porcentagem. Se o Banco Central elevar a taxa de juros para 3%, ele pagará 3%. Diariamente, você verá seu dinheiro crescer uma pequena porcentagem que, somados os dias de um ano inteiro, dará a taxa Selic do período. Por isso esse título é o ideal para reservas de emergência. Dá para sacar qualquer dia sem o risco de o título ter desvalorizado em relação à taxa de juros básica da economia nacional.
- Tesouro prefixado: digamos que você comprou um título que paga 4% ao ano no vencimento. Se, durante a vigência do título, houver uma expectativa de alta da taxa Selic, o valor do título cairá. Quanto mais distante do vencimento, maior será essa queda. Se houver uma expectativa de queda da Selic, o valor do título subirá. Da mesma forma, quanto mais distante do vencimento, maior a oscilação. Agora, imagine que você colocou todo o seu dinheiro em um título prefixado e houve uma expectativa de alta da Selic. O valor do seu investimento sofrerá uma queda. E, digamos que você precise do dinheiro nesse instante: você vai ter que vender seu título ao Tesouro Nacional (que, aliás, garante a compra a qualquer momento), vindo a perder dinheiro. À medida que vamos ficando mais próximos do vencimento, menores ficam as oscilações causadas pela Selic até que, chegando ao vencimento, o valor em juros combinados e o oscilado se tornam iguais. Ou seja: no vencimento, não importa o que aconteça, você receberá os 4% ao ano que o título do exemplo paga.
- Tesouro IPCA+: a relação com a Selic é similar. Selic cai, o valor do título sobe. Selic sobe, o valor do título cai. Quanto mais longe do vencimento, maior a oscilação. No vencimento, você recebe a correção pela inflação mais a quantidade de juros anuais combinadas.
Ou seja, tanto o Tesouro Prefixado quanto o Tesouro IPCA+, se você precisar do dinheiro antes do vencimento, pode ter problemas caso haja uma expectativa de alta da Selic.
Por outro lado, se houver uma expectativa de queda da Selic, o título pode valorizar mais rapidamente e você pode ficar com a tentação de vendê-lo. Por isso, quando a Selic estava muito alta em meados da década de 2010, muita gente usava esses títulos para especular, ganhando com a expectativa de queda da taxa de juros.
Por outro lado, é uma política interessante, caso você não queira especular, comprar esses títulos se puder deixar o dinheiro investido até o vencimento. Lembre-se: alguns dos títulos públicos prefixados e mistos têm vencimentos para mais de cinco anos… os vencimentos vão de 2023 a 2055. Então é bom se planejar para evitar perdas do seu investimento.
Ah, sim… não esqueça que há a incidência do imposto de renda pela tabela regressiva:
- Até 180 dias – 22,50%
- 181 até 360 dias – 20,00%
- 361 até 720 dias – 17,50%
- Acima de 720 dias – 15,00%
Essas porcentagens incidem apenas em cima dos juros, o seu lucro. Então, uma saída com menos de dois anos do investimento, pode “comer” uma parte maior dos seus ganhos.
Como investir em título públicos
O caminho mais simples de se investir em títulos públicos é o Tesouro Direto. O Tesouro Direto é a parceria entre o Tesouro Nacional e a B3 (bolsa de valores brasileira) para dar acesso às pessoas físicas que, através disso, podem comprar até mesmo 1% do valor de um título. Com quantias pequenas como R$ 50 já dá pra começar.
Para tanto, abra uma conta em uma corretora de valores, que possuem jeitos mais simplificados de fazer esse investimento. Mas até mesmo através de seu banco já dá pra fazer isso. Mas preste atenção se o banco cobra taxa de custódia dos títulos. A maioria das corretoras não cobra taxa e isso fará a diferença no futuro de seu investimento.