Livro “O Investidor Inteligente”, de Benjamin Graham: que lições podemos tirar dessa obra de 1949
Benjamin Graham é o pai do chamado value investing e o seu livro “O Investidor Inteligente” é a obra em que sintetiza toda a sua sabedoria.
O livro é de 1949, mas ainda pauta a atuação de investidores que acreditam que é possível detectar empresas que estão subestimadas pelo mercado, com a intenção de comprar suas ações que, mais dia menos dia, passarão a valer tanto quanto a companhia merece.
O livro “O Investidor Inteligente” é a síntese do trajeto de Benjamin Graham, esse investidor originário de Londres, nascido em 1894, e que logo cedo se mudou para Nova York.
Mesmo com a perda do pai, ainda criança, conseguiu estudar na Universidade de Columbia, graças a uma bolsa de estudos. Se formou em 1914, mas logo sentiu que a carreira acadêmica não era sua praia: foi para Wall Street iniciando sua carreira profissional como escriturário.
Sua experiência em Wall Street permitiu que ele abrisse a própria empresa de investimentos. De início, alternou momentos excelentes com momentos de prejuízos consideráveis. Mas esses tropeços lhe moldaram a capacidade de prospectar ações, sempre atento aos menores detalhes dos relatórios financeiros.
E foi esse gosto pelos detalhes financeiros que lhe permitiram atravessar o período pós-crash da bolsa, entre 1929 e 1932, com surpreendentes ganhos.
Nos próximos anos, sistematizaria o conceito de “value investing”, pelo qual ficou famoso. Antes disso, os métodos para escolha de ações na bolsa de valores eram vagos e sem uma sistematização clara.
De fato, o livro “O investidor inteligente”, de Graham, não foi criado para pessoas experientes da bolsa. Graham pensou em leigos, pessoas que desejassem entrar nos mercados a qualquer momento de sua vida, com linguagem simples e direta.
O livro traz o método de Graham: análise detalhada dos resultados das companhias ao longo do tempo. A ideia é revelar, através desse escrutínio, o que ele chama de valor intrínseco da empresa: quanto a empresa REALMENTE vale, em linguagem simples. Se as ações revelam que a empresa está abaixo de seu valor intrínseco, então é um bom momento de comprar esses papeis. Pois, no longo prazo, eles devem valorizar.
O livro “O Investidor Inteligente” é uma obra que continuou a ser aperfeiçoada. Sobretudo após 1956, quando Graham deixou de lado suas atividades profissionais. Claro que ele se manteve a par do mercado financeiro e sua evolução. Assim, as versões de “O Investidor Inteligente” foram ficando cada vez mais adequadas aos novos aprendizados do autor e às novidades da bolsa de valores.
A última edição sob a tutela do autor foi a quarta, de 1973. Acredite, a primeira edição brasileira desse livro seminal só aconteceu em 2007. Essa edição, além de trazer o texto original em inglês e a tradução em português, traz ainda notas, originais de 2003, do jornalista financeiro Jason Sweig, que tornam o conteúdo ainda mais atualizado.
É um catatau de 670 páginas. No entanto, os comentários de Sweig complementam o texto às vezes vetusto de Graham (embora nada complicado) com pitadas mais atualizadas e descontraídas, mais adequadas aos investidores do século 21.
Investimento versus especulação
Graham faz questão de deixar claro que investimento não é especulação. Ele diferencia claramente as duas coisas. Talvez não fosse evidente na época como é hoje. Mas ele define investimento como uma operação que acontece após uma criteriosa análise, buscando o máximo de segurança para o capital investido e, ainda assim, dar um retorno de lucro adequado. Qualquer coisa diferente disso é especulação.
Como fazer investimento, segundo Graham:
- Analisar exaustivamente uma companhia e a saúde de seus negócios antes de comprar suas ações
- Proteger-se deliberadamente contra prejuízos sérios
- Aspirar um desempenho ‘adequado’, não extraordinário
Quer dizer, para Graham, se você espera lucros incríveis em um curto prazo, provavelmente está se enganando. Vai se dar mal.
Mas isso não quer dizer que, se você faz trades, que deve buscar lucros incríveis no curto prazo. Se suas operações são de curto ou curtíssimo prazo, isso não quer dizer que vai alcançar a riqueza em pouco tempo.
Graham garante: o investidor de longo prazo ganha do de curto.
Investimentos para quem tem pouco tempo
Graham diz em seu livro “O Investidor Inteligente” que se o investidor tem outro trabalho que não seja o de se ocupar com a bolsa de valores – profissionais liberais e assalariados -, não há problema nenhum. De fato, para ele, nada melhor do que não se comprometer completamente em um mercado que mesmo os mais experientes têm dificuldade. Ele classifica essa categoria como investidores defensivos.
Este deve preferir empresas que passem a ideia de fortalezas, castelos fortificados que aguentem qualquer pancada e que, se levarem pancadas, se ergam com relativa facilidade: estão protegidos da concorrência, não sofrem com o avanço tecnológico e estão garantidos de interferências do estado.
Estas características incluem:
- Empresas grandes
- Empresas com condições financeiras sólidas (ativo circulante seja pelo menos o dobro do passivo circulante)
- Empresas cujo endividamento de longo prazo não supera o capital de giro
- Empresas cuja estabilidade dos lucros para as ações ordinárias é verificada para os últimos dez anos
- Dividendos sem quebra nos últimos 20 anos
- Crescimento dos lucros por ação nos últimos dez anos deve ser de pelo menos um terço, com a empresa mantendo uma razão entre preço e lucro moderada, não ultrapassando 15 vezes os lucros médios dos últimos três anos
- A razão entre o preço e os ativos também deve ser moderada, com o preço atual não devendo ser maior do que uma vez e meia o último valor contábil divulgado
Se você pegar essa lista, vamos convir, e aplicar às empresas brasileiras listadas na B3 não sobra nenhuma.
E para os investidores agressivos?
Um investidor empreendedor, por outro lado, seria mais agressivo, dedicando-se com mais afinco a um maior número de ações e fundos.
Para estes, Graham orienta em seu livro O Investidor Inteligente:
- Companhias secundárias estão permitidas
- Elas devem mostrar um bom desempenho e um registro passado satisfatório, embora não pareçam atraentes ao público
- O LPA – Lucro por Ação deve ser analisado cuidadosamente
- Cuidado com as maquiagens contábeis dos relatórios financeiros: o LPA pode ser alterado pela famosa contabilidade criativa
- Por isso, o investidor deve ficar de olho também no ROIC (Retorno Sobre o Capital Investido): um ROIC de ao menos 10% é interessante; 6 ou 7% são aceitáveis se a companhia está em dificuldades circunstanciais e não estruturais.
Graham ainda defende que ficar no meio termo entre essas duas posturas – a defensiva e a empreendedora – pode significar ganhar menos dinheiro no longo prazo do que se optar por uma das duas.
Ah, o psicológico…
Subir e descer faz parte da bolsa. Se não fosse a volatilidade, ela não seria a bolsa de valores.
Os ciclos mais importantes de alta e de baixa se alternam em períodos que duram anos.
Para Graham, o investidor inteligente deve estar pronto, tanto no quesito emocional quanto no financeiro para encarar os períodos de baixa em que, talvez, veja seu patrimônio ser castigado.
Graham personificou o mercado como um sujeito que pede para você comprar ações nos momentos de alta e vender as ações nos momentos pessimistas! É bem o contrário. Esse personagem é um maluco e vai implorar para você fazer maluquices!
O investidor, independentemente de seu perfil vai seguir a sua estratégia, não importa o momento ou o ciclo em que o mercado se encontra.
Sim, pode vender
Ao contrário do que muitos pensam, Graham não era um buy and holder.
Sua filosofia era o value investing.
Quer dizer, se, em algum momento, alguma empresa de sua carteira estivesse superestimada (o valor de mercado maior do que o valor intrínseco), não hesitaria em vender.
Ou seja: diferente do que muitos investidores inexperientes acreditam, nem sempre é uma boa ideia acumular ações indefinidamente porque, por razões esotéricas, ele acha que essa é uma “empresa boa e sólida”.